Com 2014 a chegar ao fim e em plena quadra natalícia, o contexto é o adequado para balanços do ano e listas de recomendações. Pela minha parte, contribuo com uma lista de livros sobre economia e política que a meu ver marcaram 2014 e que podem também servir em alguns casos para compras de última hora. Como não surpreenderá, a lista é fortemente influenciada pelos meus próprios interesses e enviesamentos.
Começando pelos temas económicos, a primeira recomendação vai para “O Economista Insurgente, 101 perguntas incómodas sobre Portugal” (A Esfera dos Livros), no qual Miguel Botelho Moniz, Carlos Guimarães Pinto e Ricardo Gonçalves Francisco explicam de forma clara, directa e pedagógica muitas das principais questões económicas que se colocam quotidianamente no debate público em Portugal. Deveria ser leitura obrigatória para políticos de todos os partidos e jornalistas.
Seguidamente, é de assinalar a publicação em 2014 de uma tradução de um dos mais importantes livros de divulgação da Escola Austríaca, “A Economia numa Lição” (Actual Editora), de Henry Hazlitt, que mantém plenamente a sua actualidade, na desmontagem de falácias keynesianas e intervencionistas, quase 60 anos depois de ter sido inicialmente publicado. Ainda no domínio da Escola Austríaca, em 2014 foi também publicado o imponente “Ação, Tempo e Conhecimento: a Escola Austríaca de Economia” (Instituto Ludwig von Mises Brasil), de Ubiratan Jorge Iorio, o mais destacado académico contemporâneo no estudo e divulgação da Escola Austríaca no Brasil.
No cruzamento da análise económica com a ciência política, é de destacar “The Social Order of the Underworld: How Prison Gangs Govern the American Penal System” (Oxford University Press), no qual David Skarbek, professor no Department of Political Economy do King’s College London, examina de forma inovadora os mecanismos de auto-governo que se estabelecem no interior das prisões.
Uma última recomendação no plano económico vai para a obra colectiva “A Economia Portuguesa na União Europeia – 1986-2010” (Actual Editora), organizada por Fernando Alexandre, Pedro Bação, Pedro Lains, Manuel M.F. Martins, Miguel Portela e Marta Simões, que, independentemente da concordância que possam merecer algumas das análises, constitui um importante contributo para a compreensão das profundas transformações desencadeadas pelos primeiros 25 anos de integração europeia.
Também em jeito de balanço da integração europeia foi publicado em 2014 “Portugal in the European Union: Assessing Twenty-Five Years of Integration Experience” (Routledge), organizado por Laura Ferreira-Pereira. Mais uma vez, independentemente da concordância que possam merecer algumas das análises (disclaimer: sou autor de um dos capítulos do livro), creio que a obra constitui um documento relevante para análise do tema, neste caso com maior peso da componente de análise política.
Ainda sobre a União Europeia (mas não só) é de realçar a publicação de “Portugal, a Europa e o Atlântico” (Alêtheia), uma colectânea de textos de João Carlos Espada onde a marca dominante é a reflexão prudente e equilibrada sobre o enquadramento e os rumos da integração europeia – assim como os riscos que actualmente enfrenta.
No plano da política interna, Camilo Lourenço voltou à carga com “Irresponsáveis” (Matéria Prima), no seu habitual estilo directo, frontal e polémico, ainda que com abordagem relativamente superficial a alguns temas. Em qualquer caso, vale a pena ler, pela coragem e pela clareza.
Para compreender melhor os últimos anos de governação, assim como os desafios profundos que o país enfrenta, recomendam-se também outras três leituras leves, mas nem por isso menos informativas, as duas primeiras mais voltadas para o passado recente e a terceira uma biografia a pensar no futuro próximo: “Vitor Gaspar por Maria João Avillez” (D. Quixote), “Reformar Sem Medo: Um Independente no Governo de Portugal” (Gradiva), de Álvaro Santos Pereira e “Rui Rio – de corpo inteiro” (Porto Editora), de Mário Jorge Carvalho.
Finalmente, e para concluir com uma recomendação de maior amplitude, é de destacar “Os Católicos, a Sociedade e o Estado” (Universidade Católica Editora), na qual Manuel Braga da Cruz se debruça sobre a participação dos católicos na vida pública e sobre o papel da religião – e mais especificamente do pensamento católico – na acção social e política no mundo contemporâneo.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa