A maioria dos meios de comunicação, os comentadores de serviço e muito boa gente vê no Governo do PS, que finalmente tomou posse, virtudes que confesso não encontrar. Muitos têm a ideia de que o Partido Socialista, livre dos condicionamentos impostos pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda e com uma maioria absoluta, terá uma governação mais próxima da social democracia e mais eficaz, nomeadamente no plano económico. Ora isso não acontecerá por várias razões:

  1. Desde logo porque não sabem, porque a generalidade dos ministros são fortes em convicções ideológicas e muito fracos em experiência de dirigir pessoas e organizações. Irão com toda a certeza lançar mais dinheiro no SNS, na Educação, na Justiça e na Cultura em vez das reformas e da organização de que há muito a administração pública necessita.
  2. Porque não terão a visão e a coragem de mudar as políticas erradas dos últimos seis anos, para mais em sentido contrário. Assim sendo, manterão os mesmos erros, como a nacionalização da TAP, a bitola ibérica – desperdiçando milhões de euros na via férrea e tornando o comércio externo dependente de Espanha – não avaliarão a vida útil do aeroporto Humberto Delgado antes de decidir a localização de um novo aeroporto, não reavaliarão a linha circular do Metro em Lisboa, conforme decidido pela Assembleia da República, e condenarão a política energética através do fundamentalismo ambientalista, à custa do crescimento da economia.
  3. A grande família socialista não abandonará a defesa dos seus interesses, não deixará de encontrar empregos para os da casa e na economia continuará a pensar no papel do Estado e não em facilitar a vida às empresas. Pior, vamos assistir nos próximos tempos à acusação dos empresários pelos males da economia: ouviremos que os empresários são ignorantes e exploradores, não investem, não criam os empregos necessários e só querem mais subsídios do Estado. Além disso, o Governo continuará a preferir as pequenas e micro empresas da metade não competitiva da economia dual e a exorcizar a maioria das médias e grandes empresas exportadoras, carregando-as de impostos, de burocracia e dos chamados custos de contexto, como a energia, a denegação da Justiça e através do submundo tenebroso das licenças e das autorizações.
  4. A corrupção continuará a dominar a política partidária e o mundo das relações entre a política e as empresas do regime e a promessa de transparência na distribuição das oportunidades para a ida ao banco, no caso do PRR, não passará de uma miragem. Além disso, acredito que tudo será feito para que os chamados mega processos morram nas catacumbas da Justiça, de facto, não gostaria de estar na pele do procurador Rosário Teixeira e do Juiz Carlos Alexandre, este já com um processo às costas, oficialmente tratados como os maus da fita.
  5. Finalmente, o novo Governo foi judiciosamente organizado no sentido da concentração do poder do partido sobre o Estado e para o controlo das decisões com efeitos na economia e na sociedade. A consagração de uma ministra com poderes de controlo sobre os outros ministérios, com a separação de funções ministeriais entre o poder de distribuição do dinheiro e o poder de as executar, bem como a pessoalização da hierarquia ministerial em detrimento da hierarquia das funções, não será propriamente um acaso.

Em resumo, os próximos quatro anos não serão muito diferentes dos seis anos anteriores, porque geralmente as mesmas causas provocam os mesmos efeitos e, neste caso do XXIII Governo, a causa principal é a falha democrática do nosso regime político, que dá às oligarquias partidárias todo o poder de escolha dos representantes do povo e nenhum poder aos cidadãos, que se limitam a escolher o partido com acesso ao poder, ou seja, a escolha entre a fome e a vontade de comer. Isto é, ao escolher as pessoas o PS tem nas mãos todo o poder, mas, infelizmente, sem a sabedoria e a seriedade necessárias para retirar Portugal da cauda do progresso europeu e acabar com a pobreza e o subdesenvolvimento.

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