Marcelo é um animal político no melhor sentido da palavra. Porque tem instinto, inteligência emocional, energia, fome de palco, vontade de intervir naquilo que hoje chamam o espaço público. Se estivéssemos a falar de um Chefe de Estado à americana, Marcelo tinha tudo: o sorriso, o afecto, a disponibilidade, a fotogenia, tudo o que se procura num político que possa assumir-se como agregador da nação, das suas culturas e identidades – numa época onde elas valem sobretudo pelo que se vier a saber que fizemos por elas e muito menos por algum trabalho sério que aprofunde a agregação cultural e sentido identitário da Nação.

E nisso Marcelo parece tão imbatível que começamos a temer que se nos acontecer uma graça ou uma desgraça, Ele nos entre pela porta adentro.

Nessa linha deste espumoso paternalismo ou, para ser mais sério, de alguém que parece preocupar-se com a vida e o bem-estar da Nação que representa, não há pai para Marcelo. Fareja a desgraça e faz dela uma festa de reconciliação e unidade; celebra a vitória, com enorme generosidade medalhística; e faz algo que exige vocação e sacrifício – que o diga Rui Rio, está presente! No bem, no mal, no assim-assim! No incêndio mais devastador, na mais paradisíaca praia fluvial, ou nos anos do sobrinho de um dos seus condóminos, Marcelo está lá! Disposto a tudo, atento ao que mexe, armado de um sorriso que nos reúne e que ele faz questão de registar em todas as selfies que puder.

O clímax deste frenesim mediático do Presidente a que assisti com genuíno divertimento – foi quando afastou a equipa médica que o tratou e fez (ele próprio) o relato do boletim clínico (dele próprio), numa altura recente em que um golpe de sol lhe terá provocado uma quebra de tensão.

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Para o populismo que aí anda, onde uma Cristina Ferreira vale 10 primeiros-ministros e um Cristiano Ronaldo 100 Governos e Assembleias juntos, Marcelo veste bem o que os dias das sociedades mediáticas e dos populismos fáceis parecem exigir a um Chefe de Estado. A frivolidade que é inerente a este tipo de cultura recente pode tornar estas figuras mais fugazes, pelo desgaste e cansaço que advém de ter que estar, como a melga e o tremoço, sempre, alegremente, presentes!

Mas não é só esta a outra face da moeda. A outra pode resumir-se verdadeiramente numa palavra singela: a Verdade! Nada ou quase nada do que nestas sociedades populistas parece, realmente é! E, principalmente, nada é para ser levado muito a sério. Vejam com cuidado que consequências práticas advieram, em todos os principais dossiers da vida pública, de tanta rodopio e preocupação “marcelista” com a vida dos Portugueses.

A cereja em cima do bolo vem agora com Joana Marques Vidal. Recomendo que ouçam, serena e atentamente, as palavras espalhadas já nas redes sociais do publisher do Observador, José Manuel Fernandes, a este propósito. O afastamento de Joana Marques Vidal é o exemplo de um “conluio” estabelecido entre o sistema político para se proteger das suas fragilidades. E tal como noutras circunstâncias a rosto deste “conluio” reuniria numa “selfie” sorridente, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.

Muitos têm dito que Marcelo exerce a sua magistratura como um Rei. Faltam-lhe, sinceramente duas coisas – A VERDADE que o afasta do original para uma mais vulgar imitação daquilo que afinal só parece ser e o pecado original de tudo isto; A INDEPENDÊNCIA – a distância que todos precisávamos que o Chefe de Estado tivesse do sistema político e das suas declinações!

Presidente da Causa Real