Estamos a poucos dias de eleições e para além de cartazes com mensagens vazias e de reuniões partidárias a discutir o sexo dos anjos, nada de novo no horizonte.

A indigência política que atravessa o país é confrangedora. Num cenário de eleições antecipadas, num momento de grande indefinição nacional e com um número nunca antes visto de opções partidárias a proporem-se ao eleitorado, esperava-se um fervilhar de ideias, propostas e objetivos capazes de ajudar à escolha dos eleitores. É isso que se espera de uma democracia saudável, em reconfiguração partidária e com novos challengers a disputarem o eleitorado. Mas a realidade é outra: não há uma única ideia, estratégia ou motivação séria para fazermos opções.

Do PSD ao PS, passando pela IL e pelo Chega, estão todos entretidos a definir fasquias eleitorais e números mínimos de deputados a eleger. O grande objetivo que têm a propor ao eleitorado é o de anunciarem com quem vão casar no dia seguinte às eleições. O PSD promete casar com o PS. O PS diz que ainda vai pensar com quem quer casar. A IL diz que só casa com o PSD se o PSD não flirtar com o PS. O CDS está deprimido porque sem casamento antecipado provavelmente perdeu a hipótese de constituir família. O Chega promete um grande resultado para estragar todos os casamentos que não o incluam. Enquanto isso, à esquerda, o objetivo é o de sempre: nacionalizar tudo, esmifrar os malvados patrões e distribuir o dinheiro que não temos pelos serviços públicos que não funcionam e pelos trabalhadores que não trabalham. Catarina Martins chega mesmo a prometer aumentar todos os salários em Portugal. Como? Aumentando. E mais não diz.

O centro tornou-se a única estratégia nacional. Todos querem os votos do centro, mas, verdadeiramente, ninguém percebe para quê, nem ninguém explica para quê. É ao centro que se ganham eleições, dizem os candidatos a Primeiro-ministro. Mas para votar neles, o tal centro precisava de saber ao que vêm. Este fim-de-semana, o PS até chamou a sociedade civil para afinar ideias. E a sociedade civil pediu o óbvio: estabilidade nas políticas, objetivos definidos e incentivos a esses objetivos. “A ciência não conhece ciclos políticos”, alertou a investigadora Elvira Fortunato.

O grande drama nacional é este: não há plano, não há estratégia, ninguém sabe para onde se caminha. E quando assim é, não há razões para votar em ninguém, o país vai ficando para trás e, num mundo cada vez mais competitivo, Portugal vai desaparecendo, talvez não do mapa, mas dos planos estratégicos dos outros países e da vida dos próprios portugueses que chegam ao mercado de trabalho.

Enquanto isto, nas sedes partidárias compõem-se listas de candidatos a deputados que ninguém conhece, nem ninguém quer conhecer. E os líderes partidários, quando aparecem, é para fazer comentários bacocos nas redes sociais a desprestigiar as instituições, mesmo quando elas fazem o seu trabalho. Para Rui Rio, a detenção de João Rendeiro fugido à justiça é uma má notícia e uma manobra eleitoralista de António Costa. Está tudo dito.

É por isso que, enquanto eleitora indecisa, deixo o desafio: dão-se alvíssaras por uma boa ideia que me faça ir votar no dia 30! Tenho a certeza de que não sou a única.

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