A campanha para as eleições internas da IL tem sido nutritiva. Falou-se de queques, de muffins, e de mais arroz. Tudo coisas boas e correlativamente calóricas. Acrescente-se ao queque farinha de trigo, e diga-se que a candidatura da continuidade é um tradicional e monótono Bolo de Arroz (doravante “O Bolo”).

Escalpelizemos a sua ingestão, para ilustrar a diferença entre os candidatos: é uma experiência mais complexa do que devia. É um investimento, porque o lucro, a crosta cimeira, crocante e açucarada, não se come sem que incorramos no custo de mastigar a subsequente massa indiferenciada, que desilude porque se desembrulha como um presente de Natal que, afinal, são meias. Não poucas vezes, apetece deixar de lado, mas como não se deita comida fora, lá se engole, acrescida daquele fundo meridional, muito tostado, só mesmo para aficionados d’O Bolo.

No combate político, a comunicação é preponderante. Só que não é tudo. Relegando para segundo plano as tricas internas, intensas e naturais, que nem sempre dignificam o partido, o apelo nacional daquela crosta cimeira depende do que lhe subjaz. Desse ponto de vista, talvez seja melhor eleger um éclair, com o chocolate no topo, mas bem recheado, com um creme consistente. Parafraseando a Dama de Ferro, there is no alternative, a não ser o éclair – claro – para evitar que a Iniciativa Liberal se transforme numa meia-de-leite tépida, acantonada entre o sarrabulho de um extremo e o peso histórico da posta mirandesa do centro.

O percurso e o sucesso da Iniciativa Liberal são notáveis, e de todos merecem um efusivo e laudatório props. Para além dos cerca de noventa autarcas, o partido conta agora com oito deputados, em número iguais aos tentáculos do cefalópode mais célebre. A questão fundamental, que se coloca no próximo domingo aos membros, talvez se prenda mais com o segundo do que com a sobremesa: para a próxima fase da nossa luta, a receita é arroz de polvo?

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