Imagens a que já não estávamos habituados, pelo menos na Europa, entraram-nos pela casa dentro com uma brutalidade que as torna impossíveis de ignorar. A guerra voltou à Europa, à nossa casa. Agora não é em África ou no Médio Oriente, é aqui ao lado, são os nossos vizinhos que foram violentamente invadidos, atacados e mortos. A onda de solidariedade e comoção que se abateu sobre a sociedade europeia levou os líderes políticos a saírem da sua letargia habitual e a agirem.

A pergunta que temos que nos fazer é a seguinte: estamos a fazer tudo ao nosso alcance para parar esta invasão? Serão as sanções suficientes para parar Putin?

Sejamos claros, o mundo livre demorou demasiado tempo a agir. Medidas como a suspensão da Rússia do sistema swift e o congelamento de bens dos principais oligarcas russos, embora eficazes foram lentas a ser tomadas, e como no controlo da pandemia, estão a ser tomadas medidas verdadeiramente desproporcionais; banir atletas russos das competições desportivas ou o ensino da obra de Dostoiévski das Universidades faz tanto sentido como colocar fitas à volta de bancos de jardim ou limitar a venda de bebidas alcoólicas em supermercados para controlar a infecção por covid 19. “É usar a escuridão para lutar contra a escuridão” como bem escreveu Paolo Nori, especialista em literatura russa sobre a possibilidade de a universidade de Milão cancelar um curso sobre o autor.

Chegou a altura de nos confrontarmos com a realidade. Durante anos os países democráticos ocidentais dedicaram-se à realpolitik, as economias europeias e americanas e, já agora, os respectivos líderes, nunca quiseram saber se os países onde faziam negócios, obtinham as matérias-primas ou a energia eram democráticos ou se ameaçavam os vizinhos, o que interessava era fazer os melhores negócios. Estariam errados? Não necessariamente. O mercado internacional é a melhor forma de tentar integrar esses países, dessa forma garantimos que os seus povos não estão reduzidos à pobreza e à fome; o caso de Cuba é paradigmático, o embargo americano não levou a uma mudança de regime, apenas ajudou a pobreza extrema do povo cubano.

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Podemos agora aplicar sanções à Rússia, como bani-la do sistema swift, porque antes a Rússia esteve integrada nesse sistema. Não seria portanto isolando-a desde sempre que resolveríamos o problema. Mas se o embargo americano não levou à queda do regime em Cuba, serão as sanções suficientes para parar Putin?

Tal como sucede com outros grandes males, as medidas destinadas de futuro a impossibilitar a guerra poderiam ser piores que a própria guerra. Se conseguirmos reduzir o risco de tensão que conduz à guerra, isso será talvez tudo o que é razoável esperar conseguir.” Assim escrevia Hayek em 1944.

Infelizmente, o risco de tensão não foi reduzido a tempo e a Europa enfrenta agora um adversário forte numa altura de elevado desinvestimento na defesa. Por aqui perdemos demasiado tempo com os chamados temas “fracturantes” e acabámos a pagar mais de 2 euros pelo litro de combustível e com uma guerra à porta. Pior era difícil.

É o futuro da liberdade que está em jogo.