Dirão as más línguas que faço promoção da sua imagem com este artigo. Mas se fizesse viria mal ao mundo? Não, claro que não.

O André Leonardo (esta é a altura de googlarem para verem quem é o personagem) foi meu aluno, sim.

Mas foi muito mais que meu aluno.

O André começou por ter de fazer mais uma cadeira na sua faculdade de origem, o ISCTE, para além das que trazia de Erasmus (licenciatura em Gestão). Já lá vão uns anos. Mais de dez. E, com isto, o André, sem me conhecer, mandou um email a perguntar-me se podia fazer a minha cadeira (a tal a mais). Por email e sem o conhecer, diz-me ele que a minha expressão foi exatamente esta, “sem teres vindo às minhas aulas eu não apostaria todas as fichas nesse cavalo”. O André pediu-me os materiais. Os materiais e/ou o que fosse de indicações para o exame seguiram pela mesma via. Mas com o aviso, sublinhado e reiterado, de que me parecia, claramente, que não estava em condições de se apresentar a exame. O André, ao contrário, apresentou-se a exame. E fez a cadeira. E fez com grande nota.

O rapaz era duro de roer. Não se lhe podia dizer que não. O “não” funcionava como “ai é, então vais ver se não sou capaz!?”. E esta capacidade de transformar um não, uma adversidade, num sim e numa vitória faz do André uma das pessoas mais resilientes que conheço. Não é fácil ver hoje jovens que estejam dispostos a dar tudo, literalmente tudo, por aquilo em que acreditam. Mais tarde vim a comprovar a sua fibra em diversas situações, como meu aluno de mestrado e meu orientando também de mestrado.

Umas das suas muitas situações foi quando resolveu fazer, em 2009, o primeiro congresso internacional de empreendedorismo num local improvável: ilha Terceira, Açores. A sua ilha e o seu local de nascimento davam expressão ao que queria que acontecesse. Nasceu no caminho do meio, em Angra, onde há o caminho de cima, o de baixo e o do meio. E foi assim, a partir do caminho do meio que conseguiu, ainda miúdo, transformar um sonho em realidade. Feito para a história: como é que um miúdo sem barba e sem curso (que estigma feio!) junta 600 pessoas em Angra para o primeiro congresso internacional de empreendedorismo, devem perguntar-lhe a ele. Como é que consegue convencer desde o McNamara ao presidente do Benfica a estarem presentes, devem perguntar-lhe a ele. Como é que nesse congresso, o primeiro, conseguiu juntar tantas pessoas e esgotar bilhetes em 15 dias devem perguntar-lhe a ele. Uma história a não perder. Uma história que começa com um guardanapo de papel onde escreve a ideia e que, no meu gabinete, acaba por ganhar asas: “força André, acho que és capaz!”

Depois, como é que se fez ao mundo e “lhe deu” a volta, literalmente, devem perguntar-lhe a ele. Como é que conseguiu juntar o dinheiro, arranjar patrocinadores (noventa e sete contactos com empresas, noventa nãos e apenas sete sins, com o primeiro sim ao fim de mais de 50 contactos, é obra apenas para quem é resiliente).

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Não vou contar aqui a história do André porque ele conta-a, na primeira pessoa, melhor que ninguém. E inspira e faz acontecer – seu mote.

Vou apenas dedicar-me a duas palavrinhas: sacrifício, resiliência.

Quanto se quer fazer alguma coisa séria na vida é preciso um nível de sacrifício não despiciendo. Organizar uma conferência ou dar a volta ao mundo são apenas duas delas. Sobretudo para um miúdo que não conhecia mundo e que não tinha dinheiro. E este sacrifício é talvez uma das características de vida que mais valorizo nos meus alunos. Alguém disposto a fazer das tripas coração para conseguir um objetivo, mesmo na adversidade, ou mais ainda na adversidade, é alguém que merece muito. E merece todo o meu respeito.

Quando se quer fazer uma coisa séria na vida é preciso, igualmente, um nível de resiliência não despiciendo. Para organizar e fazer, dependendo de terceiros e do mercado, é preciso acreditar com toda a força que, mesmo depois de vivenciar 50 nãos, ainda haverá um sim para aparecer. E é desta fibra que se fazem grandes homens.

O André esteve esta semana connosco no INDEG-ISCTE Executive Education para uma talk. Para partilhar as suas histórias e as suas experiências de vida. Foi um gosto tê-lo connosco. Foi um gosto vê-lo brilhar no palco. Foi um gosto vê-lo inspirar todos. Foi um gosto.

Tudo isto para dizer uma coisa simples. Muito simples mas muito sentida. São estes alunos, estes ex-alunos, que devem inspirar professores. Tenho uns quantos. Uns quantos que transformaram as suas vidas – e a minha vida –  e estão a fazer o mundo mais mundo. Que tornam realidade os seus sonhos. Que lutam a cada dia por novos sonhos e novas realizações. Que não viram a cara à luta. Que fazem de um “não” uma oportunidade de vencer. Que fazem da adversidade uma arma séria para fazer acontecer.

O André Leonardo é a expressão disto mesmo. O André Leonardo, dez anos volvidos, é um profissional que faz acontecer.

Perguntava-me, a medo, o pai do André há dez anos atrás, “o que acha que vai ser deste meu filho?”. “Acha que ele pode ser bancário?”. Olhei para ele, fiquei pensativo, disse-lhe que bancário talvez não. Pedi-lhe, sobretudo, que o deixasse voar. “Deixe o seu filho voar”. Talvez bancário não seja, pensei eu. Mais provável banqueiro, também pensei. Em todo o caso, é preciso que voe. E o André está a voar.

Melhor remuneração e recompensa para um professor é isto mesmo: vê-los voar. Não há nada no mundo que pague esta sensação de que é possível dar asas a quem quer voar.  E quer muito. Voa André Leonardo, voa.

O meu obrigado por teres voltado ao INDEG-ISCTE Executive Education para contar a tua história de vida.

És um orgulho para mim, André. Continua, pois, o teu faz acontecer.

Presidente, INDEG – ISCTE Executive Education; Professor Catedrático, ISCTE – IUL