Os ideais são perigosos, já que as realidades nunca são tão belas

Não há como negar: Portugal enfrenta uma crise profunda no mercado habitacional que está a deixar muitos cidadãos em apuros, sobretudo nas maiores metrópoles do país. A dificuldade em encontrar um lar adequado a um preço acessível tem múltiplas raízes, não se deve a um único fator. Mas há uma razão fundamental pela qual não há casas, sendo a causa maior desta crise: na última década a construção de novas habitações e o investimento em infraestruturas que crie novas centralidades é escassa. A falta de construção vê o problema agravado com a saída do mercado da habitação de inúmeras casas transformadas em alojamentos turísticos e a chegada a Portugal de um fluxo elevado de imigrantes e residentes habituais de vários estratos socioeconómicos. Mas não são estes fatores a raiz do problema, pois o turismo e o influxo de imigrantes são necessários para pôr o país a funcionar, não é algo que se possa sacrificar sem consequências graves. Num cenário já de si tenso, movimentos radicais tomam as ruas apontando o dedo ao capitalismo, ignorando a ironia palpável de que são os partidos de esquerda no governo desde 2015 (e há muitos mais anos à frente do Município de Lisboa) que, de uma perspetiva política, moldaram o panorama atual.

Sim, o capitalismo tem as costas largas, e no fim de semana passado assistimos novamente a um desfilar de protestos contra a crise da habitação, numa tentativa de a extrema-esquerda sinalizar virtudes e afastar as responsabilidades que tem no atual momento do mercado. A “luta” nas ruas teve depois eco nos media e nas redes sociais, onde assistimos a uma penosa e tortuosa apresentação de argumentos que explicam, pela forma como rejeitam a racionalidade económica e até factual, porque Portugal se encontra bloqueado em tantas áreas onde não faz sentido que existissem problemas. Ver Ricardo Robles a juntar-se aos manifestantes – sem ser presenteado com um banho de crude e penas –, ou deputados da maioria socialista a prestar homenagem nas redes a quem destrói montras só é possível porque, em boa verdade, a manifestação não visou resolver coisa nenhuma na habitação, mais não sendo do que uma exibição estética de uma certa coterie que vive da afirmação de inúmeras alteridades artificiais levadas ao extremo e que com os protestos não procura resolver coisa nenhuma.

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