André Ventura referiu um episódio da História de Portugal em jeito de piada no seu discurso na Academia de Jovens do CHEGA com algumas imprecisões históricas que não posso deixar em branco.

O Bispo de Zamora atirado da torre pelo povo português em 1383, referido no discurso por André Ventura, não era Bispo de Zamora mas sim Bispo de Lisboa, sendo o seu nome real D. Martinho de Zamora por ter nascido nesta cidade. Em segundo lugar, a torre referida por André Ventura é o torreão da Sé de Lisboa e quem o atirou do torreão para o terreiro da Sé não foi o povo português, mas só alguns homens, no dia 6 de Dezembro de 1383, entre os quais o alcaide menor e o procurador da cidade de Lisboa, na ação de pedir explicações pelo facto de o Bispo de Lisboa não ter repicado os sinos aquando da morte do Conde Andeiro, amante de D. Leonor Teles. O povo, segundo nos conta Fernão Lopes ajuntou-se à entrada da Sé de Lisboa gritando pela morte do Bispo. Mais tarde houve um pedido de desculpas por esta morte ao Papa Urbano VI.

Em terceiro lugar, a revolta do povo português com D. Martinho de Zamora não se deu só devido ao facto de estar alinhado com os castelhanos (e não “espanhóis”, como Ventura referiu) mas também pelo facto de estar alinhado com o Papa de Avinhão e não reconhecer o Papa de Roma, no famoso conflito conhecido por “Cisma do Ocidente” que opôs dois Papas.

D. Martinho de Zamora, aos olhos dos portugueses, era assim visto como um duplo traidor; castelão e cismático.

Curioso o facto do Papa de Avinhão, poucos dias depois da morte de D. Martinho de Zamora, no dia 23 de Dezembro de 1383, desconhecendo o seu falecimento, tê-lo promovido a cardeal.

Além deste facto da História de Portugal, muitos portugueses confundem também o defenestrado D. Martinho de Zamora com o defenestrado Miguel de Vasconcelos, atirado pela janela em 1640, embora este último já tivesse sido morto a tiro pelos 40 conjurados quando foi atirado pela janela.

Fica aqui pois o esclarecimento deste episódio com a finalidade de a História de Portugal poder ser melhor entendida e interpretada pelo povo português mesmo quando é utilizada em jeito de “piada política”.

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