Noutras circunstâncias, ter-me-ia dispensado de comentar o papel do recém-falecido Otelo de Carvalho no derrubamento militar do regime ditatorial vigente em Portugal desde o golpe de estado de 28 de Maio de 1926 e na consecutiva proclamação do regime demoliberal em Portugal. Acontece, porém, que o seu falecimento teve lugar num período exacerbado da vida política internacional reinante em numerosos países e causado, entre nós, pela abusiva chegada do PS ao poder em 2015. Com efeito, o PS não fez mais do que cavalgar o ressurgimento dessas ideologias extremistas – umas intituladas de “direita” e outras de “esquerda” – que distorcem o espaço de funcionamento demoliberal.

Se as causas disso ainda são obscuras, as consequências da ideologização partidária sistemática têm tido nefastas para a vida política normal e a isenção da comunicação social, assim como para a actividade económica e social do país, desde a propaganda e o autoritarismo à corrupção. Ora, estas consequências negativas não podem deixar de ter graves efeitos negativos em todo o espectro nacional. Ora, por mais que os “saudosos de Abril” se manifestem, o facto é que ninguém que tenha vivido a transição de 1974-76, votando pela primeira vez livremente em Portugal, ignora que Otelo teve um papel altamente nocivo na consolidação da democracia portuguesa. Não foi à toa que ele caiu de 16,5% dos votos para 1,5% entre as presidenciais de 1976 e 1980.

Pessoalmente, fiquei felicíssimo quando ocorreu o expectável, rápido e eficaz golpe militar de 25/4 que me permitiu regressar a Portugal ao cabo de 11 anos… Não há tempo nem espaço para contar pela milionésima vez a história do golpe. O sinal mais importante que veio do topo da hierarquia militar foi a imediata marcação da Assembleia Constituinte, à qual ainda houve alguma resistência oriunda do vírus anti-democrático formado em torno de alguns militares, entre os quais Otelo, o qual manobrava entre a Junta Nacional e o esquecido COPCON. Entretanto, os sucessivos governos provisórios foram negociando o fim dos combates e a declaração de independência das colónias: o que o «slogan» da hora reivindicava – “Nem mais um soldado para África” – era o rápido termo do golpe e o regresso dos militares aos quarteis!

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