Em 2011, numa conferência em Paris, José Sócrates afirmara que “para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei”, acrescentando ainda que “é essencial para países como Portugal financiamento para desenvolver a sua economia. É assim que eu vejo as coisas”.

Já o nosso actual ministro das Infraestruturas e Habitação, que sonha um dia mandar nisto tudo, num discurso mais ou menos inflamado em Castelo Paiva, na qualidade de vice presidente da bancada socialista em 2011, proferiu: “Estou marimbando-me para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram. Estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida” e se o fizermos “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”.

Se era assim que o ex-primeiro ministro tinha a fórmula mágica do desenvolvimento do País, certamente o actual ministro Pedro Nuno Santos, que raramente muda de pensamento político e de estratégia, partilhará ainda da mesma opinião como político sério que é. Todos sabemos que a coerência política do actual ministro das Insfraestruturas e Habitação é um dos seus grandes atributos políticos.

Passados onze anos, parece claro que para António Costa o crescimento e desenvolvimento do tecido empresarial português se deve fazer à conta do endividamento.

O pacote de ajudas às empresas agora anunciado para mitigar os efeitos da inflação, que de facto não foi provocado pelo Estado, leva-nos à triste conclusão de que, pese embora algumas medidas possam ter um efeito positivamente fraquíssimo na tesouraria das organizações, encaminha-las para o crédito e pode ser a destruição total do tecido empresarial.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na verdade, se há algo em que os nossos empresários se comprometem é em pagar as suas obrigações, e mais crédito significa mais compromissos a liquidar futuramente com o total desconhecimento de como se comportará e recuperará a economia europeia nos próximos tempos, depois de uma crise pandémica seguida de uma guerra ainda sem data de fim, que veio expor a grande dependência europeia ao gás natural russo.

Assim, e como Portugal sempre foi bastante frágil aos abanões exteriores, decidiu com este pacote de ajudas tornar ainda mais frágil o que de si já está preso por fio.

Se precisamos de criar mais riqueza, certamente que a via não é levar as empresas à forca. No curto espaço de tempo, estas medidas em nada ajudam a tesouraria das empresas.

Para que serve afinal o endividamento? Exclusivamente para ajudar a criar crescimento através de investimento, na medida que é o crescimento que paga a dívida.

O alívio de tesouraria através de financiamento é matar o tecido empresarial, criando mais obrigações e despesa. O convite a comprar dívida (porque na verdade é disto que se trata) nos moldes como este “apoio” está desenhado, será declinado em grande parte pelos empresários.

Se de facto o Estado quer ajudar as empresas, que o faça através de ajudas diretas e baixa de impostos. Sem elas, o risco social é elevado e fará que muitas delas comecem desde já a restringir o emprego.

A redução de custos de contexto e a redução da carga fiscal são aquilo por que as empresas anseiam e a espera pela decisão em sede de proposta de Lei do Orçamento de Estado para 2023, que está a dias de ser conhecido, embora possa contemplar esse desejo, as empresas sabem que o caminho e a solução do governo tristemente não será essa. Pelo menos é essa a minha aposta, tendo em conta o histórico fiscal socialista, que vê na redução de impostos para as empresas um pecado daqueles mortais.

Sendo que Portugal tem das taxas de IRC mais elevadas da OCDE, seria uma mais-valia importante para o tecido empresarial português saber já se pode ou não contar com uma redução significativa de impostos.

Aliviando já a tesouraria das empresas por um período considerado normal (até atingir alguma estabilidade do mercado) quando se pede para aderir modelo de layoff simplificado, talvez na mesma proporção daquela que foi utilizada na crise pandemia, a ideia que não é de todo descabida, seria isso sim, uma verdadeira ajuda directa à tesouraria das empresas, aliviando encargos que ocupam uma percentagem elevada na componente de custos.

A opção nesta matéria foi o silêncio.

De qualquer forma, uma certeza porém temos: os empresários portugueses estão a marimbar-se para o governo e gostam de honrar as suas obrigações financeiras e, ao contrário do governo, sabem fazer contas, sabendo até onde podem ir.

A dívida é para pagar e só o crescimento da economia o pode fazer. Dito isto, deixo um recado ao governo: ou os senhores sem põem finos, ou nós Portugueses vamos todos para o charco, e se formos, mesmos todos, até as vossas as pernas tremem.