Ops, então o presidente do Irão faleceu na sequência da queda de um helicóptero? Enfim, acho que é como se costuma dizer: “O material tem sempre razão”. O helicóptero lá terá achado que, apesar de ainda ter muitas horas de voo pela frente, justificava fazer do seu rotor fiambreira e fatiar o carinhosamente chamado, Carniceiro de Teerão.

À morte do Carniceiro de Teerão seguiram-se as condolências de Presidente da República e Primeiro-Ministro. Em relação a Marcelo Rebelo de Sousa não me espantou. Acredito que o Presidente tenha ficado pesaroso por perder, de forma tão violenta, a oportunidade de uma selfie com um afamado terrorista internacional. Para juntar àquela outra com um iraquiano suspeito de terrorismo, com quem se deixou fotografar num restaurante em Lisboa. De facto, irritante. Lá vai ficar incompleta, a caderneta de Marcelo, raisparta. Ainda por cima este era um daqueles cromos duplos das páginas centrais.

Já os pêsames de Luís Montenegro surpreenderam-me, confesso. Até porque após oito anos de governos socialisto-comunistas, o governo da AD me merece um estado de graça de uma legislatura inteirinha. De maneira que quando ouvi que Montenegro exprimira condolência pelo falecimento do presidente iraniano pensei ter escutado “espremeu condolências”. No sentido de ter feito um esforço sobre-humano para arranjar algo lateral às carnificinas para mencionar sobre o Carniceiro de Teerão. Ao mesmo tempo que continha o vómito. Mas não, Montenegro exprimiu mesmo condolências. A aproveitar o estado de graça, portanto. Agradecia é que não abusasse, senhor Primeiro-Ministro. Agradecido.

Quem também se exprimiu, mas a propósito da eventual preguiça dos turcos foi André Ventura. No Parlamento, e a propósito do tempo de construção do aeroporto de Istambul, o líder do Chega disse que “os turcos não são propriamente conhecidos por serem o povo mais trabalhador do mundo”. E ainda antes de analisar a polémica relativa à liberdade de expressão a que a frase deu início, focar-me-ei no essencial da questão: afinal, são os turcos madraços, ou não?

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Apresento a primeira prova: o atoalhado turco. Se é discutível tratar-se do mais felpudo dos tecidos, não haverá dúvidas quanto a tratar-se – e isso é que realmente importa, que diabo! – da mais absorvente das fazendas, imbatível ao nível da retenção de fluídos e rapidez de secagem. Um produto que denota inegável mestria de fabrico, incompatível com preguiças. Portanto, por aqui, André Ventura não tem qualquer razão.

Apresento a segunda prova: a casa de banho turca. E eis que o caso muda, radicalmente, de figura. Há o buraco no chão, sim senhor, mas onde anda o canalizador que ficou de ir instalar a sanita? Nunca mais apareceu. Denotando inegável e indesculpável (porque causadora de insuportáveis cãibras nas pernas) sornice.

Aqui chegados, o meu veredicto. Fez muito bem, o Presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco, em não tolher a palavra a André Ventura, uma vez que as provas quanto à preguiça turca são inconclusivas. Bom, mas o fundamental é então, dizem-me, o mais genérico tema da liberdade de expressão. E, quanto a isso, é preciso ser mais preguiçoso que um turco para achar que o papel do Presidente da Assembleia da República é calar deputados no Parlamento. É que basta ver que Parlamento começa, precisamente, com “parla”, ou seja, “fala”, “conversa”. Ora, se o Parlamento não serve para falar, o que sobra? Sobra o “mento”. Aquele famoso rebuçado, que na sua versão de menta, quando misturado com Coca-Cola, provoca uma erupção. Uma erupção quase tão violenta como as da esquerda sempre que é obrigada a ouvir opiniões que não lhe agradam. Daí haver até quem lhes chame os Carniceiros, não de Teerão, mas da liberdade de expressão.