Os políticos, comentadores e jornalistas afirmam repetidamente que a principal injustiça e assimetria em Portugal são a desigualdade de género e de raça. Principalmente a esquerda, divide-nos em opressores e oprimidos, consoante as suas próprias construções e uma agenda ideológica que visa destruir os valores fundamentais da sociedade ocidental. A estes não importa que o verdadeiro problema se resolva: a existência de um fosso entre quem ganha muito e pouco. Porque a desigualdade salarial em Portugal não é entre homens e mulheres ou brancos e negros, mas de gestor para trabalhador, de quadros médios e altos para quadros baixos. O semanário Expresso desta semana destaca na primeira página que “a desigualdade salarial nas grandes empresas quase duplicou” e que “a remuneração dos gestores subiu 47% em dez anos e a dos trabalhadores recuou 0,7%.” Não é só injustiça básica, é a loucura total de um país sem moral. E aos poderosos não interessa que isto mude, mas que permaneçam os seus privilégios e se invente uma realidade alternativa para que a população viva num estado de permanente alucinação. Enquanto as grandes corporações fazem a cartelização de preços dos bens essenciais sem motivos válidos, a população sofre. Enquanto os políticos, desde a extrema-esquerda até à extrema-direita, fazem pactos para distribuírem altos cargos entre si, a população sofre. Enquanto os comentadores são os moços de recados de quem tem o poder, a população sofre.

Agora a pergunta essencial que tem de ser feita: quem socorre a população que sofre, quem está de alma e coração com a grande maioria dos portugueses que recebem uma miséria e são tratados como gado nos serviços essenciais? A resposta é simples: ninguém. Na esquerda, principalmente no Bloco, PCP e parte do PS, há os autoproclamados salvadores dos pobres, das mulheres e dos desgraçados. Chamam-se a eles próprios de ativistas, antifascistas, antirracistas e defensores dos direitos humanos. Separam os portugueses segundo critérios que convêm a eles próprios, não segundo o que é real. A insensibilidade é tal que o Governo socialista, completamente alheado do que é um mau salário ou rendimento, canalizou a mesma (pequena) ajuda para mitigar os efeitos da pandemia e inflação até quem ganhasse 2700 euros por mês. Isto não é só falta de vergonha na cara ou gozar com os milhões de portugueses que ganham menos de oitocentos euros por mês: isto é ignorância total do que acontece na vida dos cidadãos, porque os políticos só se preocupam realmente com eles quando são eleitores e aí não sobram promessas ou chantagens.

A falta de sensibilidade social do PS foi amparada durante estes anos todos pelo Bloco de Esquerda e PCP, isto é óbvio e ninguém pode negar. Se só agora há greves e contestação social é porque o sindicalismo é completamente partidarizado, verdadeiras milícias de esquerda. Os sindicatos são meros centros operacionais onde se instiga e recruta. Não interessa aos políticos de esquerda e extrema-esquerda que os problemas sociais se resolvam, mas que se eternizem e controlem os seus nichos eleitorais. Mas podemos contar com a direita, principalmente esta nova direita de extremistas e ILitistas? Vejamos, como até agora só estiveram na oposição e é fácil criticar, importa ver o que se passa com os políticos destes partidos nas autarquias: o panorama é uma catástrofe. A maioria dos autarcas do Chega desertaram do partido, reflexo de não haver uma ideologia clara e ser um amontoado de chavões populistas. Já os da Iniciativa Liberal, dou como exemplo o meu Porto, que tem sido governado com forte influência deste partido e que é cada vez mais um shopping center de multinacionais, com turistas que atiram uma esmola a uns portuenses e com outros (muitos mais) que são simplesmente esquecidos, colocados de lado ou expulsos de suas casas. Enquanto isso, a criminalidade cresce, a sopa dos pobres tem longas filas, a toxicodependência voltou às ruas e a cidade está separada em ILitistas e portuenses esquecidos.

Então, quem nos acode? Já percebemos que não podemos esperar que o Estado seja positivamente intervencionista, tenha capacidade redistributiva ou seja sequer árbitro nas más práticas e distorções de mercado. Assim, a única forma da vida de os portugueses melhorarem é se a economia melhorar, for competitiva, moderna e inovadora. E não precisamos ser todos economistas para perceber que neste momento é atrasada, retrógada e improdutiva. Porquê? A grande maioria dos empresários não tem formação ou capacidade de gestão e grande parte dos trabalhadores não tem ética de trabalho ou incentivo para melhorar. As empresas raramente inovam, a grande maioria das indústrias ainda assenta em mão-de-obra intensiva, com necessidade de salários baixos para poder continuar a atividade. Por sua vez, a grande maioria dos serviço são sofríveis e com pressupostos do século passado, enquanto o incentivo ao empreendedorismo no setor primário é inexistente. Pior ainda, a corrupção contamina e distorce ainda mais o mercado, assim como a formação de cartéis e outros crimes que ficam sempre impunes.

O ensino teima em não melhorar, as escolas são instrumentos de ideologia progressista sem capacidade para fornecer competências profissionais ou sequer psicológicas, sendo que as sociais sempre foram um problema. As universidades não conseguem ser pólos de investigação e inovação colaborativas com a grande maioria das empresas ou sequer com o Estado. Os valores corporativos são quase sempre uma farsa, uma manobra de marketing sem relevância, no que deveria ser o farol que impede o afundamento.

A aposta crescente no turismo é desconcertante, a população não tem incentivos e tantos outros erros que muitas vezes parecem querer implodir viciosa e propositadamente a economia e as finanças públicas. Aos bons exemplos, que são a excepção: bem hajam! Vocês são o sal da terra, a semente que cresce forte entre as ervas daninhas e um agricultor que não quer nem sabe como cultivar o campo. Vocês são o que nos resta. Ao contrário da seleção de futebol, ninguém irá colocar bandeiras portuguesas à janela em vossa honra e ninguém vos irá cantar o hino nacional. Mas vocês serão decisivos para que a sociedade se desenvolva, o país engrandeça e a economia produza riqueza para todos.

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