As armas de persuasão

Robert Cialdini, no seu livro Psychology of Persuasion, explica que há seis princípios essenciais que sustentam a arte da persuasão: o princípio da reciprocidade resulta da nossa tendência para retribuir uma oferta, o que implica uma maior disponibilidade para fazer negócio com alguém que nos oferece algo a priori; o princípio da consistência significa que as pessoas procuram ser coerentes com o que disseram no passado, principalmente se o fizeram em público ou por escrito; o princípio da empatia significa que tendemos a fazer as vontades a alguém que conhecemos ou/e com quem há interesses mútuos; o princípio da escassez significa que valorizamos o que não podemos ter ou alcançar ou que estamos na iminência de perder; o princípio da autoridade significa que as pessoas procuram interpretar a miríade de informações recorrendo à autoridade de especialistas a quem reconhecem autoridade na matéria; o princípio da prova social diz-nos que as pessoas tendem a fazer aquilo que é socialmente aceite.

Estes princípios têm muita utilidade como técnicas de vendas e marketing das empresas, mas também podem ser olhados como contexto para a adoção de políticas e promoção das mesmas na opinião pública.

O princípio da autoridade e suas consequências

Talvez o episódio mais impressionante sobre o poder de influência do princípio da autoridade esteja no Velho Testamento, quando Abraão, em cumprimento das ordens de Deus, se dispôs a executar filicídio, o que acabou por não acontecer porque Deus cancelou a ordem no último momento. Seja ou não factualmente verdadeiro, o episódio ilustra bem a tendência humana para confiar no juízo da autoridade. No seu livro, Cialdini dá um exemplo de uma experiência em que dois atores, que se faziam passar por cientista e cobaia voluntária, pediam a um terceiro elemento (o verdadeiro objeto da experiência) que colaborasse numa rotina “científica” que visava, supostamente, testar os efeitos da punição na aprendizagem e memória (na verdade a experiência visava perceber quanta dor as pessoas são capazes de provocar num inocente, no âmbito de uma tarefa ou trabalho). O “falso cientista” fazia perguntas à “falsa cobaia” e sempre que esta errava o primeiro ordenava ao terceiro elemento que carregasse num botão que produzia um choque elétrico (obviamente o terceiro elemento não sabia que o choque era fictício). A experiência foi-se desenrolando e os choques aumentavam de intensidade, assim como os gritos das “cobaias”, à medida que as respostas erradas se sucediam. O mais impressionante é que dois terços das pessoas continuaram a carregar no botão, apesar de estarem a assistir àquele espetáculo atroz, mas nenhum o fez quando numa experiência similar em que quem dava a ordem não era cientista. Conclusão: é muito importante que a autoridade não seja beliscada para que possa ter o poder de influenciar decisivamente as pessoas.

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Uma autoridade em vacinas mRNA esteve em Portugal

Esteve em Portugal Robert Malone, pioneiro na técnica mRNA que levou à produção de algumas vacinas contra a Covid-19. Surpreendentemente, ou talvez não, nenhum órgão de comunicação social mainstream entrevistou Malone. Podem ter tentado, mas não creio que tenha sido o caso. Para ouvi-lo é preciso consultar as malditas redes sociais, as Tertúlias da Junqueira ou as Notícias Viriato. Mas porquê esta omissão? Parece-me evidente que, para a narrativa oficial, o facto de Malone ter pedido, com boas razões para tal, cautelas na vacinação de crianças e de ter alertado para a pressão política sobre a FDA, entre outras reflexões inquietantes, o qualificam não como uma autoridade científica, mas sim como um “perigoso chalupa”.

E o que é um chalupa?

Devo começar por afirmar que a lista quase não tem fim, pelo que faço apenas um pequeno resumo. Um chalupa é: alguém que anda sozinho de carro com a máscara posta; alguém que usa duas máscaras; alguém que destrói a epiderme abusando de produtos de limpeza das mãos à base de álcool; é alguém que se cruza na rua com outra pessoa e foge assustado; são grupos de pessoas que, apesar da vacinação, mantiveram ou agravaram as medidas sanitárias nas escolas; por último, chalupa é o médico veterinário do Zoo de Lisboa que diz que vacinar os animais “faz todo o sentido”. Isto sim, são pessoas com deficits de vária ordem ou então estão encurraladas pela narrativa do medo. Claro que também há, embora num grau muitíssimo menor, pessoas que dizem que não se passa nada e que o vírus não existe, mas a proporção entre o primeiro grupo de chalupas e estes últimos é de 1000 para 1, ou algo do género.    

A seleção de chalupas a abater

Para os prosélitos da narrativa oficial, o mais incomodativo no processo de persuasão das massas não é o chalupa que nega o vírus, mas sim os malditos cépticos. Os cépticos são alguém que faz perguntas, que sugere alternativas e, sobretudo, alguém que não admite que se justifiquem as facadas nos direitos das pessoas que ocorreram nestes tempos de vírus. Numa sociedade civil livre, com uma imprensa livre, o céptico faria sempre parte da formação da opinião pública. Numa pequena proporção foi isso que aconteceu, embora com limitações e condicionamentos de forma a não beliscar a integridade da narrativa oficial e um consenso social visto como absolutamente necessário. Mais recentemente, deu-se um truque adicional que consistiu em aproveitar fenómenos soltos como os insultos ao Presidente da Assembleia da República para qualificar como chalupas a abater todos os que se insurgem contra as medidas e contra a falta de transparência do processo de vacinação das crianças. Isto apesar de, numa ilha de liberdade de expressão, uma reportagem de Ana Leal ter exposto de forma tão evidente a Ordem dos Médicos, que escondeu na gaveta um parecer que recomendava prudência na vacinação das crianças. Prudência essa que foi durante bastante tempo a palavra de ordem nesta matéria, até que, de repente, a DGS recomendou a vacinação de crianças dos 12 aos 15 e todos os dissidentes passaram a ser tratados como chalupas. O que fazer com eles? Mafalda Anjos respondeu assim no final do seu editorial infame na Visão: “…É, pois, preciso consequências, imediatas, rápidas e duras, tal como estipula a lei. Encolher os ombros não é mais solução.” Uma fascista, portanto.

Um mundo nada admirável

No artigo O Admirável Mundo Novo em 2020 chamei a atenção de que a submissão das massas seria mais eficaz e duradoura numa sociedade anestesiada e condicionada no pensamento livre, tal como descreve o livro Brave New World de Huxley, do que através de métodos totalitários mais diretos. Para que tal aconteça é preciso dominar os princípios da persuasão, em especial a força do princípio da autoridade e do princípio da prova social. É o que está a acontecer em larga escala.

A reação a este estado de coisas é a insubmissão através de todas as ferramentas ainda existentes que permitam travar o caminho em direção a uma sociedade de servos. O admirável mundo novo não tem nada de admirável.