Há cerca de um ano, nesta coluna, foram publicados dois artigos (aqui e aqui) que abordaram a temática ESG (environmental, social, governance).

Desde então, na economia, na política, na academia, na imprensa e em várias situações da vida social multiplicaram-se exemplos dos avanços da Cultura Woke. Na vertente económica podemos mesmo dizer que o ESG é uma espécie de braço económico da Hidra Woke, a qual se caracteriza assim: uma lógica profundamente totalitária ao procurar impor desígnios colectivos às escolhas individuais; certezas arrogantes, pseudo-científicas ou morais, sobre aquilo que é a suposta virtude do desígnio, seja ele, por exemplo, a descarbonização ou desigualdade entre sexos; por último, a vitimização e a infantilização.

Quem investe num negócio, directamente ou através dos mercados financeiros, deve ter em linha de conta o prémio de risco. O prémio de risco é o acréscimo de retorno que o investidor exige face a uma alternativa com risco nulo (ou uma aproximação de risco nulo). Por exemplo, um investidor poderá investir em títulos do tesouro alemão se considerar que é a melhor alternativa disponível de baixo risco, isto é, com rendimento praticamente certo; ou então poderá investir em ações para obter melhor retorno, embora mais arriscado.

O valor de um negócio pode ser apurado estimando os seus fluxos de caixa futuros descontados para o presente ao chamado custo de capital, sendo que este resulta da soma da taxa de juro sem risco ao prémio de risco desse negócio. Negócios mais arriscados implicam (é exigido pelos investidores) um retorno maior, isto é, um prémio de risco mais alto, o que é equivalente a dizer preços de entrada mais baixos. O risco do negócio pode ter origem em muitas fontes, designadamente o país, o sector e riscos específicos diversos. O papel do mercado, ao consistir na descoberta do preço e implicitamente no prémio de risco, contribui para uma alocação de recursos mais eficiente, isto é, “empresas más” têm prémios de risco altos por comparação com as “empresas boas”. Esta lógica financeira significa que é no prémio risco determinado no mercado que são incluídas considerações sociais ou ambientais ou outras, na medida em que estas possam influenciar os lucros e fluxos de caixa das empresas e, por consequência, a rentabilidade do negócio.

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Foi nesta linha que, no seu famoso artigo no NY Times em 1970, Milton Friedman escreveu que o papel social das empresas é maximizar o lucro. Esse artigo procurou contrapor-se à tendência, nessa altura emergente e hoje aparentemente vencedora através do ESG, de que o papel das empresas é servir o interesse dos vários grupos de interesses na empresa, para além dos acionistas (os stakeholders). Estes incluem funcionários, fornecedores, clientes e, claro está, o estado. Nessa altura, a preocupação de Friedman era sobretudo ao nível do efeito prejudicial da interferência do governo nos negócios, designadamente nos graus de liberdade que lhes retira, em nome de valores colectivos que são, por definição, discutíveis. Em termos resumidos, segundo Friedman, as empresas têm de cumprir a lei e maximizar o seu lucro, sendo esse o seu contributo para a sociedade. Acresce como autoevidente que as boas empresas o fazem tendo em linha de conta todos os grupos de interesse em jogo, embora em nome de um objetivo último: o lucro.

No seu livro Woke Inc., Vivek Ramaswamy avançou com um tipo argumentação diferente. Segundo o autor, o problema não é tanto a interferência do governo nos negócios, mas a captura do governo por uma determinada elite empresarial que, sinalizando virtude e fingindo preocupações ambientais ou sociais, visa obter uma parte significativa do bolo. Acresce o papel de empresas gestoras de fundos como a Blackrock ou Vanguard, cujo ativismo funciona como uma verdadeira chantagem que põe em causa a integridade da sociedade e do mercado.

De qualquer forma, seja o governo a capturar os negócios ou o seu contrário estamos a falar de um movimento de cima para baixo que mudou a forma como o mercado empresarial e financeiro se organiza.

No entanto, investir numa empresa sem considerações financeiras ou acrescentando outras variáveis ligadas a preferências pessoais é também uma questão pessoal. Por essa razão, é útil perceber até que ponto a Cultura Woke por parte do consumidor de produtos financeiros não tem também um papel importante na vitória do capitalismo dos stakeholders.

Se os consumidores têm um papel importante na disseminação do fenómeno, quais as raízes históricas do movimento Woke? E qual o estado da arte deste movimento na academia, na imprensa e na política?

Para responder a estas e outras perguntas, a Oficina da Liberdade organiza uma tertúlia, no dia 26 de Outubro, no Porto. Nela participarão, entre outros, alguns colunistas regulares do Observador, como é o caso de Alberto Gonçalves e Patrícia Fernandes, em cujas crónicas podemos testemunhar um pensamento estruturado sobre o tema. A entrada é livre (ver cartaz com informações adicionais) e não haverá “No Woke Zone”.

Nota editorial: Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.