Esta semana os “efectivamente”, essa gente que só entra nas polémicas com um livre trânsito passado pelo progressismo, mal podiam sair de casa com tanta explicação: era o problema de André Ventura ter escrito “Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem”, a que se juntava o problema da devolução do património dos nossos museus e arquivos (será que se pode dizer nossos?), sem esquecer a questão que os vai atormentar nas próximas semanas: como tomar posição contra a eutanásia sem correr o risco de ser considerado reaccionário?
Agora não há dia em que os “efectivamente” não sintam necessidade de mostrar a sua repulsa por André Ventura, mas daqui por umas semanas para aí andarão frenéticos a demarcar-se do bode expiatório então de turno até porque, como é mais que certo, a propósito da eutanásia, alguém, entre os que se lhe opõem, escreverá ou dirá algo de menos cauteloso ou menos certo. E de imediato, não o duvido, logo começará o ciclo do “não, antes pelo contrário”, “de modo algum”… e será quase com alívio que, antes que Fevereiro acabe, a eutanásia será aprovada porque assim, pelo menos por uns tempos, não se terá de tomar partido, e os “efectivamente” terão algum sossego.
Habituada que estou ao exercício diário desta penitência, confesso que às vezes ainda há situações que pelo seu absurdo me surpreendem. Por exemplo, como entender, o clima de “eu condeno mais e melhor que tu” criado em torno das declarações de André Ventura sobre a deputada Joacine, quando em Portugal temos aproximadamente um milhão de pessoas referidas prosaicamente como retornados? O que é um retornado senão um devolvido ao seu país mesmo que, como acontecia no caso, muitos nunca tivessem vindo ao país para que os mandavam retornar?
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