A tradição é a fé viva dos mortos e o tradicionalismo é a fé morta dos vivos. A genealogia era uma ciência que os judeus cultivavam, porque o seu sacerdócio estabelecia-se em função da linhagem: só os descendentes de Aarão – como Zacarias, pai de João Baptista e marido de Santa Isabel – o podiam exercer. Com Cristo, da mesma forma como o povo eleito deixa de estar limitado a Israel, também o sacerdócio fica acessível a todos os varões católicos, desde que a Igreja neles reconheça esse chamamento divino.

A promessa da bênção divina foi feita a Abraão e à sua geração, como também foi profetizado que o Messias seria descendente do rei David. Muitos séculos depois, essas remotas origens judaicas deixaram de ser importantes para os cristãos e, até, passaram a ser inconvenientes. Com efeito, muito embora Jesus e os primeiros discípulos fossem judeus e os primeiros cristãos convivessem pacificamente com os outros membros desse povo, cujas sinagogas São Paulo frequentava, os reis católicos decidiram a sua expulsão, bem como a dos muçulmanos, dos reinos hispânicos, a não ser que se convertessem à fé cristã. D. Manuel I também adoptou, por pressão dos monarcas castelhanos, essa política e, desde então, passou a ser quase proibido qualquer remoto parentesco com hebreus ou mouros.

Estes pruridos genealógicos levaram ao absurdo de nem sequer o próprio Cristo poder pertencer à Ordem religiosa e militar a que foi dado o seu nome! Contudo, nem sempre foi tão radical a separação entre os cristãos e os fiéis de outras religiões. Por exemplo, a rainha Santa Isabel de Portugal, mulher de D. Dinis, e que nasceu infanta de Aragão, descendia nada mais nem nada menos do que do próprio Maomé, por sua filha, Fátima az-Zahra, que foi casada com o Califa Ali ibn Ali Talib Hashim, origem da dinastia hachemita, que ainda hoje reina na Jordânia. Com efeito, uma oitava neta de Maomé, de seu nome Auria ibn Lope ibn Musa, que nasceu no ano 825, casou com Fortun Garcés, rei de Pamplona. Deste casal procedem os reis de Aragão, de Castela, de Leão e de Portugal e, portanto, todas as casas reais peninsulares, e não só, descendem do profeta. Há uns séculos, este parentesco era muito indesejável mas, num futuro próximo, poderá ser de grande utilidade, se o velho continente vier a ser, de novo, conquistado e ocupado pelo Islão…

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