É uma pena andar a escrever sobre a eventual implementação de uma aplicação para rastreamento de contactos, ou contact tracing app na gíria mais bonitinha, quando nada se sabe da opção governamental sobre o assunto. Pior ainda quando somos esclarecidos (vamos fingir que é um esclarecimento) pela instituição que a desenvolveu, através de uma “peça jornalística”.

Como o texto completo só consta na edição impressa do jornal que o publicou, ajudo-vos a compreender a razão do reparo e das aspas. No referido jornal, o investigador garante que é fundamental o apoio governamental para o projeto crescer e que “quanto mais usarmos, melhor, mas não depende de usarmos a 50% ou 60%. É sempre a somar”. Está claro, é sempre a somar o financiamento recebido do Governo. Exato, aquele que vem a fundo perdido.

O mesmo investigador informa-nos que o “não uso da aplicação não traz contraindicações e que o pior que pode fazer é assustar as pessoas com a possibilidade de estarem infetadas”, mas é um “susto bom” segundo o senhor. Pois está claro, compreendo perfeitamente. Para mim, é uma sensação fantástica quando fico assustado com alguma coisa, quero logo repetir. E se isso incomodar umas quantas pessoas ou, vamos só supor, desperdiçar recursos que são escassos com testes inúteis, melhor ainda!

Nessa mesma peça somos ainda lembrados que nem todos estamos com o “mindset adequado e que, mesmo na posse de todas as faculdades mentais, há quem não perceba que consequências determinado desvio de comportamentos pode ter”. Parece uma frase d’ O Livro Vermelho, eu sei…

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Mas o que é mesmo a cereja no topo do bolo desta telenovela mexicana, é sermos informados pela guarda avançada do Governo sobre a aplicação escolhida. Sim, porque de acordo com o senhor primeiro-ministro, não será adotado um sistema deste tipo em Portugal.

Isto é de uma trapalhada tal e de um amadorismo em termos de comunicação pública que até envergonha. Mais envergonhado fico por não haver um pivot de um telejornal que pergunte simplesmente ao recém-diplomado em TIC, doutor Engenheiro Luís Marques Mendes: “Sôtor, tem a certeza que a aplicação funciona mesmo sem Bluetooth?”. Enfim…

Sobre a aceitação da aplicação em Portugal, a conclusão lógica de uma sondagem publicada por outro meio de comunicação social do regime é de uma elasticidade científica que até assusta, mesmo quem não perceba nada de nada sobre nada, como eu. A conclusão de que a maioria dos portugueses concorda com controlo da Covid-19 por telemóvel é baseada numa amostra de 605 entrevistas telefónicas. Pois…

Visto que isto das aplicações é que está a dar, tendo em conta a comunidade cada vez mais alargada de especialistas em TIC’s no nosso país, venho por este meio propor um desafio, neste caso para o desenvolvimento de algo útil para todos nós.

Diz-nos quem desenvolveu a Stayaway Covid, que a aplicação está um passo à frente no rastreio rápido e eficaz da Covid-19. Para a aplicação que proponho, o rastreio já está feito, o que se pede é o remédio. Como não temos uma pessoa sequer, nem uma, que nos livre desta doença, resta-nos a tecnologia.

Quer dizer, eu até me lembro de uma pessoa que numa crise falou claro para as pessoas, mesmo quando eram coisas que as pessoas não gostavam de ouvir, como aumento brutal de impostos por exemplo. Mas não tenho o contacto dele… por isso, quem aceita o desafio de desenvolver a aplicação Stayaway Costa?

Post Scriptum: Quando não temos políticos à altura dos desafios é a isto que chegamos, vejo-me obrigado a expor publicamente, o que provavelmente me vai prejudicar, mas não consigo ficar a assistir a isto tudo e ficar calado.