“O Homem é o Homem e a sua circunstância”
Ortega y Gasset

A ópera continua… A única coisa que parece certa no meio de tudo o que se passou é o facto das autoridades portuguesas – sejam elas do âmbito da Defesa, das Forças Armadas, das Forças de Segurança, dos Serviços de Informações, da Justiça, enfim, de toda a parafernália que enforma o tão decantado “estado de direito democrático” – andarem à deriva e não terem a mais pálida ideia do que se passou e como se passou!

Existem algumas perguntas óbvias que é necessário fazer, dado o assunto ter caído na praça pública. E a primeira é já esta: porque é que o evento, dada a sua delicadeza, caiu no domínio público (que se saiba o furto não foi descoberto por nenhum jornalista)? A que se deve seguir a questão de se saber quando foi feita a última inspecção aos paióis? Quem tinha acesso aos mesmos? O que é que lá havia efectivamente (desculpem, mas depois de tudo o que já foi dito, tenho dúvidas se alguém sabe a lista do material lá existente)? Como é que este tipo de informação foi parar às mãos de hipotéticos bandidos? Como é que os paióis foram violados e quando (e o “quando” pode ser diferentes vezes…)?

Finalmente é necessário saber (a quem investiga o caso, obviamente) que relatórios foram feitos ao longo do tempo, a fim de avaliar os verdadeiros responsáveis em todo este âmbito.

Também seria curioso descortinar quem fez a fuga de informação para o jornal “El Espanol”, que revelou a lista do material roubado, ou furtado (vejam bem onde chega a discussão!), complementada com um artigo arrasador do correspondente, em Lisboa, do Jornal “El País”, e que nos expõe ao ridículo! E é caso para perguntar, se a notícia é falsa porque não se levanta um processo ao jornal?

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Pelo meio desta surrealista situação apareceram umas almas penadas, cheias de teias de aranha, a arengar que tudo não passou de um “golpe da direita” – como se houvesse alguma “direita” – para prejudicar o Governo. Não há pachorra!

Tudo piorou, porém, com o regresso do primeiro-ministro do remanso das suas férias, quando à revelia do que se tinha dito até então, tudo foi desvalorizado; deixando o roubo de ser grave, tão pouco perigoso sendo, afinal, todo o mundo competente, não havendo lugar a demissões! E até os dois generais que se demitiram por não concordarem com tanta pouca vergonha estavam era ressabiados (como puseram a correr). Sendo que eu ainda me lembro que a pior alcunha que se podia pôr a um cadete da Academia Militar ou da Escola Naval era o de “sabujo”. Infra sabujo.

Num passe de mágica o assunto morria ali, ao mesmo tempo que se passava um atestado de menoridade mental à generalidade da população.

Soube-se entretanto, que o CEME, numa manobra táctica inspirada provavelmente no “emprego de armas de tiro tenso no ataque aos pontos de cota mais alta”, já não quer os paióis de Tancos para nada, andando afanosamente à procura de alternativa. Logo agora que o senhor ministro, na sua cândida magnanimidade, tinha aberto os cordões à bolsa e mandado reparar a rede e o sistema de videovigilância. Não se faz!

Para o cenário da ópera (bufa) ficar completo o PM e o MDN atiraram com o sorridente CEMGFA para a frente dos microfones (que, supostamente representava, no momento, todos os militares), ficando eles atrás do dito, com ar de quem estava a levar um clister – que momento de glória, senhor general! – para finalmente nos elucidar e para nosso descanso, que afinal a maioria do material desaparecido estava para ser abatido e só valia 34.000 euros! (esquecendo-se convenientemente de dizer que o material obsoleto não deixa de ser perigoso e que o grave de tudo tenha sido a violação dos Paióis…).

Sem embargo confessou ter levado um “murro no estômago”, o que apesar se ser uma expressão infelizmente apenas metafórica, lhe deve ter afectado o raciocino e as vértebras da coluna. Murro, que não alterou a boa disposição para a sardinhada que mandou preparar no dia seguinte, em S. Julião da Barra, para os seus colaboradores mais próximos.

Melhor senso teve o pessoal da Antiga Escola Prática de Engenharia que cancelou as cerimónias anuais do dia da Arma, a 14 de Julho, devido aos tristíssimos eventos ocorridos e ao ambiente de cortar à faca que se vive.

A Instituição Militar está de facto, em queda livre. A performance do CEMGFA não deixa de representar, todavia, um grande “sacrifício pela Pátria”, o que não deixará seguramente de ser recompensado no próximo dia 10 de Junho com a atribuição pelo PR da republicaníssima “Ordem da Tristíssima Figura”, grau latão, arrematando-se a coisa, no fim, com uma “selfie”.

Se o CEME tem sido “brilhante” na sua actuação, o CEMGFA consegue superá-lo. Compreende-se, é um superior hierárquico! Os professores/instrutores que ensinam “Comando e Liderança” aos cadetes e oficiais, já têm aqui exemplos a apontar. Daquilo que se não deve fazer.

Oficial Piloto Aviador