Chegaram ao fim as cerimónias públicas em honra da Rainha Isabel II. Os media, em geral, destacaram a soberba organização dos eventos dos últimos dias. Já eu, em particular, destacaria a estupenda possibilidade que tudo isto representa para o turismo nacional. Hã? Não é o momento certo para falar nisto? Mau, mas agora num funeral também não se pode falar da indústria turística? Então não é rir e chegar atrasado que é de mau tom em exéquias? O que, aliás, também não se percebe. O falecido vai levar a mal, se uma pessoa rir? Ou tem algum sítio onde ir que não possa esperar um bocadinho se estivermos ligeiramente atrasados?

Não permitamos que estas tradições descabidas nos desviem do essencial. Que é o facto de terem sido cancelados 100 voos no aeroporto de Heathrow para que houvesse silêncio durante a procissão do carro funerário para o Castelo de Windsor. Já perceberam para onde isto vai, não já? Exacto, vai para o aeroporto de Lisboa. Porque estou convencido que o aeroporto da capital também tem capacidade para, sem grandes mudanças no funcionamento a que já nos habituou, cancelar às dezenas de voos diários. Proporcionado vastos momento de silêncio em Lisboa. Silêncio, esse, propicio à realização de cerimónias fúnebres.

Resta-nos, pois, investir em Lisboa como destino inigualável no que à realização de funerais diz respeito. O que até nem seria uma mudança radical na estratégia do Turismo de Portugal. Já recebemos imensos jovens que vêm fazer turismo de pé descalço. Já recebemos imensos velhinhos que chegam cá quase com os pés para a cova. O passo seguinte e natural – é captar aquele segmento de mercado composto por turistas que pretendem cá vir bater as botas.

A propósito de bater as botas, parece que o Serviço Nacional de Saúde vai ter um Chief Executive Officer, ou CEO. É verdade, o Governo escolheu o até aqui presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João para director-executivo do SNS. O que explica muita coisa. Explica, por exemplo, o caos nas urgências hospitalares. Caos para o qual há, enfim, uma boa justificação. Pelos visto, até aqui, ninguém mandava, de facto, no SNS.

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Já nos podiam ter dito. Escusávamos de ter ficado a pensar mal dos supostos incompetentes que supostamente geriam o Serviço Nacional de Saúde. Se soubéssemos que a coisa estava completamente ao deus-dará tínhamos ficado logo a pensar mal de quem de direito. Ou seja, dos de facto incompetentes que era suposto escolherem alguém para gerir o Serviço Nacional de Saúde.

Agora, convenhamos que ter um CEO à frente do SNS soa um bocado bizarro. São como que dois mundos que colidem: o mundo todo armadão em bom dos cargos de gestão com siglas em estrangeiro, e o mundo corriqueiro dos hospitais sem verbas para adquirirem papel higiénico. Pelo menos daquele com folhas múltiplas.

O SNS ter um CEO é mais ou menos como a oficina de bate-chapa e pintura ter um General Manager. Ou como o piquete de desentupimentos 24 horas ter um Executive Director. Embora, atenção. Calma. Só mesmo quem nunca teve necessidade da intervenção do piquete de desentupimentos 24 horas em algerozes, sanitas, ou fossas poderá considerar o técnico que opera o sistema de trituração e alta pressão desmerecedor de uma remuneração ao nível de director-executivo.