Como decorre da vida habitual, a rentrée do PSD consta de dois momentos: a Festa do Pontal e a Universidade de Verão. Em tempos de oposição, mais do que para medir o pulso à militância partidária, estes eventos servem para aquilatar quão próximo está o partido de regressar ao Governo. E, sobre esse ponto, as duas reuniões do partido laranja não forneceram o sumo pretendido.

Na verdade, o Pontal, para além do repisar nas críticas ao Governo, pouco mais foi do que uma espécie de passadeira colocada à disposição de Marques Mendes, um pré-anunciado candidato a Belém. Aliás, a escolha do candidato presidencial da área do PSD preencheu, igualmente, uma parte considerável da agenda da Universidade de Verão, pois por Castelo de Vide passaram dois dos putativos candidatos: Paulo Portas e Durão Barroso, embora o antigo Presidente da Comissão Europeia tivesse feito questão de repetir a sua indisponibilidade para regressar à vida política ativa.

Durão Barroso que colocou a tónica nos feitos logrados por personalidades do partido – incluindo ele próprio – no passado, malgrado ter chamado a atenção para o futuro a curto prazo, ao colocar a fasquia na necessidade de o PSD vencer as próximas eleições para o Parlamento Europeu. Aliás, também Paulo Portas insistiu que o PSD se deveria concentrar na substituição de António Costa e deixar para mais tarde a questão da substituição de Marcelo Rebelo de Sousa. Uma afirmação passível de ser vista como uma estratégia visando ganhar tempo a nível pessoal para se aventurar na corrida presidencial.

Os avisos de Durão Barroso e de Paulo Portas ressoaram no discurso final de Luís Montenegro. Daí ter dito que estava preparado para vencer as eleições europeias e que estava a dar provas de ser capaz para liderar um Governo com mais competência e mais resultados do que o PS. Uma manifestação de esperança, mas que, no que concerne às provas, talvez peque por otimismo.

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De facto, não basta insistir nos sucessivos erros do pandemónio em que se transformou o Governo de António Costa por mais gritantes e arrogantes que estes sejam, como se verifica com a insistência acéfala e quase ditatorial na imposição do Programa Mais Habitação. Também não basta a criação de imagens, ainda que sugestivas, como o sobressalto cívico, político, partidário e institucional. Para ser um partido de causas, de projetos e de futuro, o PSD precisa de trazer para o debate público as ideias que tem para Portugal.

Montenegro não quer copiar o comportamento daqueles que primam por uma oposição de barulho, mas também não deve imitar aquilo que critica no Governo, ou seja, que “os papéis não chegam à realidade”.

Face ao exposto, nesta rentrée não foi suficientemente saboroso o sumo da laranja. Aliás, a situação ainda seria pior se Marcelo Rebelo de Sousa não tivesse vindo dar uma mãozinha ao PSD ou ao seu líder. Verdade que o Presidente se concentrou na questão da invasão russa da Ucrânia, mas a sua simples presença física foi suficiente para agitar o copo. Marcelo, enquanto especialista na gestão do silêncio e em falar nas entrelinhas, foi a laranja mais sumarenta no pomar de Castelo de Vida.

Afinal, neste piscar de olho ao seu partido de origem, o Presidente da República sabe bem que nas eleições europeias não é apenas o futuro da liderança de Luís Montenegro que está em jogo. Por mais que os arautos cor-de-rosa se esforcem na propagação – ou será propaganda? – de outra ideia.