Era ainda uma miúda quando entrou na minha sala de aula.

Tinha um ar curioso e não provinha certamente de Lisboa.

Parecia mais velha do que os mais miúdos e vinha ao que vinha: aprender, fazer um mestrado.

Dei-lhe uma cadeira. Marcou-me como aluna. Sempre com questões pertinentes e onde não colocava de lado, nunca, a vontade de saber e de saber porquê. Por vezes fazia-me lembrar o livro Porquê, da Bertrand Editora, que tinha na minha estante enquanto miúdo: 500 perguntas e 1000 respostas. Sempre uma resposta a mais para a Virgínia, ou uma explicação a mais, ou um ângulo a mais, ou um ponto de vista a mais. E um debate curioso, participativo, inteligente.

Não, não esteve lá pelo canudo. Esteve lá para aprender. Esteve para trabalhar. Esteve para se capacitar. Esteve para crescer. Tinha curiosidade, muita curiosidade intelectual. E era de uma simplicidade atroz.

Perguntam-me, então, porque escrevo sobre a Virgínia? Poucos a conhecem, ao Observador não importa, não é um político/a ou um empresário/a notório/a. Porquê?

A Virgínia é a fundadora e CEO da Lisbon Digital School (LDS). Uma escola que não é apenas um centro de formação e que, desde a primeira hora que entrei para as funções que desempenho, quis trazer para dentro do ISCTE Executive Education. Com a LDS temos uma parceria para uma pós-graduação em applied digital marketing, mesmo applied, mesmo digital marketing, mesmo desenvolvida por profissionais de mercado para suprir necessidades de mercado. E temos ainda mais uma meia dúzia de cursos de curta duração desenhados em parceria.

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Tudo começou a meu pedido. Ao que a Virgínia de pronto acedeu. Logo firmámos um protocolo, pusemos em marcha o comboio e vamos fazer desta próxima edição da pós-graduação em applied digital marketing, uma edição dedicada à Virgínia. O melhor grupo de alunos receberá um prémio Virgínia Coutinho.

É o mínimo que posso fazer pela Virgínia. É o mínimo que posso fazer para a homenagear em vida. É o mínimo que posso fazer a alguém que, tão novo, é apanhado por uma doença traiçoeira, um cancro terminal, contra a ordem natural das coisas. É o mínimo para quem, como a Virgínia, no seu percurso, tenha andado por onde tenha andado, começou numa aula minha há cerca de dez anos e hoje é a líder de uma escola que ela própria criou.

Se alguma coisa puder dizer sobre a Virgínia, é que ela é a pessoa certa para se falar em educação e em conhecimento. Ela é a pessoa certa para se falar no valor do trabalho. E no valor do trabalho orientado para a formação. O valor e a diferença que faz ter conhecimento. É isso que é o projeto da Virgínia: “O homem não é nada além do que a educação faz dele” (Kant) poderia bem ser um mote seu.

A Virgínia partilhou nas redes sociais, esta semana, um texto comovente sobre a sua doença: “Há quase seis semanas foi-me detetado um cancro intra-hepático, nas vias biliares, estágio 4, sem cura, com pouco tempo de vida”; “Neste momento não me conseguem retomar nenhum tratamento que permita tentar a redução do tamanho do cancro (quando detetado, tinha 11 cm e está cada vez maior e metastizado”; “Todos os dias tenho agradecido o simples facto de acordar”; “É daqueles casos de cancro que todos os médicos sabem que existe, mas que ninguém conhece alguém que tenha tido.”

A Virgínia deixa-nos três pedidos que, esses sim, são importantes fazer chegar a muita gente. Eu junto um quarto pedido, que, estou certo, a Virgínia não se importará.

  1. Deem sangue. “Sou dadora há imensos anos, mas não imaginam a gratidão que senti em cada transfusão (foram umas seis) que me foi feita por alguém se ter predisposto a dar parte de si a quem precisa. As reservas estão baixas, não custa muito. Quem tiver oportunidade de o fazer mande-me fotos. Vou adorar saber que inspirei.”
  2. “Não adiem os vossos exames de rotina. Tenho ecografias de todos os órgãos abdominais de Fevereiro de 2020 e, em Março de 2021, é-me detetado um tumor com 11 cm, sem cura, e que não para de crescer.”
  3. “Aproveitem a vida. Deem valor ao pouco que por vezes parece que têm…”
  4. Este acrescento eu, pelos 10 anos que levo de conhecimento da Virgínia: eduquem-se. Porque a educação e o conhecimento farão diferença nas vossas vidas.

E, finalmente, deixo o que posso deixar. Um artigo simples para dar força a um ser humano que se apaixonou pela educação como forma de vida. E um prémio Virgínia Coutinho para o melhor grupo da pós-graduação em applied digital marketing.

E porque a Virgínia tem muito ainda para nos dar, deixo-lhe aqui a minha homenagem mas, não menos, toda a minha esperança. O meu obrigado e um “volta rápido”. Vamos continuar a trabalhar. Força Virgínia.