Alvo de sanções cada vez mais gravosas por parte dos Estados Unidos e da União Europeia, o regime de Vladimir Putin tenta encontrar novos parceiros noutras paragens, nomeadamente em África e na América Latina. O princípio princípio da “nova” diplomacia russa é: “olhai para o que eu digo e não para o que eu faço”.

Além da participação na Cimeira dos BRICS em Joanesburgo, o Presidente russo aproveitou a oportunidade para se encontrar com dirigentes de vários países africanos, incluindo o seu homólogo angolano João Lourenço.

O tempo irá mostrar se os líderes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) conseguirão alcançar um dos objectivos mais ousados dessa reunião: ultrapassar os países do G7 quanto ao produto interno bruto conjunto lá para 2030 ou 2050. Por um lado, os países dos BRICS enfrentam graves problemas internos, o que pode dificultar essa tarefa, mas, por outro lado, a política externa norte-americana poderá ter consequências catastróficas nas economias ocidentais.

Em Moscovo nota-se um descontentamento e irritação crescentes face à “inoperância” dos governos dos países da UE que gozam das graças do Kremlin: Itália, Hungria e Grécia, face à política de sanções de Bruxelas. Na semana passada, a União Europeia anunciou novas sanções, desta vez contra seis empresas russas que participaram na construção da ponte entre o território russo e a península da Crimeia ocupada, mas os aliados de Putin não abriram a boca. No caso da Grécia, as relações bilaterais conheceram mesmo uma grave deterioração, pois as autoridades gregas decidiram expulsar dois diplomatas russos e não autorizaram a entrada a outros dois, dando a entender que não permitirão que os espiões russos se comportem como estivessem em casa.

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Por isso, Vladimir Putin voltou a proclamar a política do regresso da Rússia a África. As tentativas da União Soviética de “meter uma lança em África” falharam, não tendo também a primeira tentativa do dirigente russo, encetada anteriormente,  sortido o efeito esperado. Desta vez, Putin apresenta-se melhor preparado e sublinha que os investimentos russos em África são para ter retorno financeiro e que a época do “internacionalismo proletário” passou à história.

Angola é um dos parceiros principais da Rússia no continente africano. As ligações dos dirigentes angolanos à Rússia, tanto o anterior como o actual Presidente estudaram aí,  a participação dos soviéticos/russos na guerra civil do lado do MPLA e o alto nível de corrupção nos dois países contribuem para um bom relacionamento. Por exemplo, na Cimeira de Joanesburgo dos BRICS, Vladimir Putin revelou que, em 2017, Moscovo e Luanda assinaram um acordo para o fornecimento de equipamentos militares e armas russas no valor de três mil milhões de dólares. Uma soma significativa para um país que enfrenta graves dificuldades económicas e sociais.

Além das armas, homens de negócios russos ligados ao Kremlin avançam na exploração de diamantes e extracção de petróleo e gás. Moscovo tenta também vender centrais atómicas para o fabrico de energia, mas a falta de meios financeiros constitui um forte obstáculo. Por exemplo, a África do Sul tinha assinado um acordo com a Rússia, mas suspendeu a sua realização devido à grave crise económica que o país atravessa.

Uma das razões apontadas pelos dirigentes africanos para o estreitamento dos laços económicos e políticos com a Rússia consiste em que esta pode ser mais um jogador internacional importante no continente além dos Estados Unidos e da China, aumentando assim o poder de manobra deles. Resta saber se Moscovo dispõe de meios financeiros, políticos e tecnológicos para participar nessa competição.

E não se pode deixar de ter em conta os custos da corrupção em todos estes negócios. Por exemplo, em 2006, Hugo Chavez, Presidente da Venezuela, assinou um contrato com a empresa pública russa de exportação de armamentos no valor de 474 milhões de dólares, que previa a construção de uma fábrica de metralhadoras Kalachnikov (até 25 mil unidades por ano) e uma de munições para essas armas. Caracas pagou o dinheiro, mas a construção ainda não chegou ao fim e as autoridades russas procuram mais de um milhão de dólares que desapareceu nas teias da corrupção.

O assassinato de três jornalistas russos na República Centro-Africana, que ocorreu na semana passada, poderá também estar ligado à presença de empresas russas na exploração pouco transparente de diamantes nesse país. Eles pretendiam investigar o papel da famigerada “Wagner”, empresa que recruta mercenários russos para a realização de operações delicadas, no negócio dos diamantes.

Essa empresa, que está presente, pelo menos, no Leste da Ucrânia, na Síria, no Sudão e na República Centro-Africana, é dirigida por Evgueni Prigojin, conhecido como o “cozinheiro de Putin”, por ter a exclusividade do fornecimento de produtos alimentares ao Kremlin.

P.S. Fiquei muito espantado com toda a surpresa da opinião pública face à “telenovela Ricardo Robles e BE”. Mas será que ainda há muitos cidadãos que acreditem na sinceridade e honestidade da chamada extrema-esquerda? É o mesmo que acreditar que o PCP adquiriu todo o imobiliário que possui com as quotas dos militantes ou que só os políticos de direita são corruptos.