Panos Kammenos é o líder do partido de extrema-direita Gregos Independentes e, desde janeiro, é também o homem do Governo de Tsipras e do Syrisa responsável pela pasta da Defesa. Um homem da extrema-direita num cargo de topo de um governo de extrema-esquerda. O economista grego Manos Matsaganis, numa entrevista que dá ao Observador, chama-o de “charlatão”, “que recorre a teorias da conspiração para suportar as suas opiniões vergonhosas”. Depois de várias polémicas, nomeadamente associados a comentários racistas e xenófobos, Panos Kammenos salta agora para a ribalta por processar jornalistas por escreverem artigos onde criticam a sua atuação política.

Panos Kammenos interpôs na última semana uma ação judicial contra o conhecido jornalista e cartoonista grego Andreas Petroulakis por ter publicado um texto jornalístico, de análise e comentário político, no site protagon.gr, próprio para esse efeito. O artigo focava-se na figura de Panos Kammenos, para dizer como o resto do Governo se começa a “assemelhar a ele”. Em troca, o ministro grego quer ganhar uma compensação de 1 milhão de euros.

O gesto não caiu bem a todos os defensores da liberdade de expressão. Nem travou o jornalista, que, logo depois de o processo judicial ter dado entrada, escreveu um novo artigo onde explicava o conteúdo do primeiro: “No texto a que o senhor Kammenos se refere eu expresso opiniões políticas, descrevo os seus últimos ou mais recentes atos políticos e refiro-me a acontecimentos políticos que são do conhecimento de todos e que são indicativos da sua carreira política”. Ou seja, a base de trabalho de qualquer jornalista, argumenta Petroulakis.

“Ele [Panos Kammenos] prefere intimidar os outros. Mas está-se a iludir, eu e os meus colegas não pretendemos deitar fora as nossas carteiras de jornalistas apenas e só porque incomodamos alguém. Ninguém está acima das críticas. Não pode haver democracia sem um diálogo livre“, acrescenta o jornalista, afirmando que esse controlo das figuras públicas e políticas é precisamente responsabilidade daquela profissão.

O processo judicial contra Andreas Petroulakis, que escreve atualmente para o diário grego de referência Kathimerini, e que é conhecido no país pelo seu humor subtil e pela crítica incansável aos políticos e figuras de relevo da sociedade grega, foi criticado por muitos. Nomeadamente pelo conceituado economista de Atenas Manos Matsaganis que, em entrevista ao Observador, lembra o episódio para definir a postura do ministro da Defesa nestes cerca de dois meses de governação. Acusa-o mesmo de querer “silenciar” quem o critica.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Andreas Petroulakis, um homem excelente, acaba de ser processado pelo ministro da Defesa, Panos Kammenos, por se ter atrevido a criticá-lo de uma forma que não teve nada de pessoal ou ofensivo, apenas político. Um milhão de euros, consegue imaginar? É assim que Kammenos quer silenciar os seus críticos”, diz o economista.

Na sequência do episódio, foi mesmo criada uma petição online para apoiar os jornalistas contra qualquer forma de repressão da liberdade de expressão.

Polémicas antigas

Em dezembro, ainda antes de o líder dos Gregos Independentes ter sido chamado por Alexis Tsipras a formar Governo (a 26 de janeiro deste ano), Panos Kammenos fazia declarações polémicas à televisão grega, acusando os judeus que vivem na Grécia de não pagar impostos. O discurso foi encarado como profundamente anti-semita e as comunidades judaicas apressaram-se a exigir pedidos de desculpa oficiais. O Conselho Central das Comunidades refutou imediatamente a acusação, afirmando que as instituições judaicas no país regem-se exatamente pelo mesmo quadro fiscal das instituições cristãs.

Mas não foi caso único. No mês passado, a propósito do braço de ferro entre a Grécia e as instituições europeias, o ministro da Defesa voltou a ser polémico e a chegar às capas dos jornais. Desta vez sob a forma de ameaça: “Se eles [os líderes europeus] nos atacarem, iremos atacá-los também a eles”. Como? “Se a Europa nos deixar nesta crise profunda, iremos inundá-la de imigrantes ilegais”, dizia Kammenos, ameaçando inundar Berlim com uma onda de imigrantes e, sublinhou, de “jihadistas”.

“Será ainda pior para Berlim, porque haverá uma onda de milhões de migrantes por razões económicas mas, também, alguns jihadistas do Estado Islâmico”, continuava o ministro grego, admitindo dar aos imigrantes ilegais na Grécia os documentos de que estes necessitariam para viajar livremente pelo Espaço Schengen.

De formação profundamente europeia, estudou Economic and Bussiness Administration na Universidade de Lyon, em França, e Gestão na Suíça, Panos Kammenos foi deputado da Nova Democracia mas acabou por ser expulso do partido e fundou, em 2012, os Gregos Independentes, conhecidos pelo populismo e pelo discurso nacionalista e com uma atitude firme anti-imigração.