O presidente dos EUA tem uma solução para acabar com os ataques terroristas de inspiração islâmica que se sucedem, em várias cidades europeias, nos últimos anos: executar os radicais usando balas mergulhadas em sangue de porco — e poupar a vida a um, para voltar para trás e contar a história.

Numa publicação colocada na rede social Twitter, Donald Trump voltou a defender que a melhor maneira de acabar com o problema é fazer o mesmo que um general norte-americano, John Pershing, fez a insurgentes muçulmanos durante a guerra nas Filipinas, no início do século passado. Só há um problema: a história de Pershing é “fake news”, isto é, é um mito que circula na Internet mas que já foi rebatido.

“Estudem aquilo que o General Pershing, dos Estados Unidos, fazia aos terroristas quando eram apanhados. Deixou de haver terrorismo radical islâmico durante 35 anos!”, escreveu Donald Trump, algumas horas depois de ter manifestado, usando a mesma rede social, a solidariedade com os afetados pela tragédia em Barcelona, esta quinta-feira.

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O presidente dos EUA já tinha falado na mesma história, sobre o “durão” general Pershing, num discurso de campanha em fevereiro de 2016, quando ainda procurava a nomeação republicana para as eleições que viria a vencer, em novembro.

“Pershing pegou em 50 balas e mergulhou-as em sangue de porco. Depois, pediu a 50 dos seus homens para carregar as armas com estas balas, alinhou 50 terroristas junto a uma parede e mandou abater 49 deles. Ao que restava, deu-lhe a ordem: vai para casa e conta ao teu povo o que aqui aconteceu. Durante 25 anos, deixou de haver problema com terroristas”, disse Donald Trump em fevereiro de 2016, quando dizia que tinha lido esta “história terrível”, não se sabe onde.

“Estudar” esta história foi precisamente o que fizeram alguns sites de análise de histórias e rumores na Internet, como o Snopes e o Politifact. Tanto um como outro concluíram que se trata de um rumor.

A história poderá ter origem no livro de memórias escrito pelo general Pershing, em que se conta o caso de um outro oficial nas Filipinas (que não Pershing), que a certa altura terá enterrado muçulmanos no mesmo buraco que um porco morto. “Não há quaisquer provas de que Pershing, ele próprio, cometeu estes atos, nem há qualquer referência a balas mergulhadas em sangue de porco — muito menos há qualquer indicação de que essa seria uma forma eficaz de parar com a violência”, escreveu o Politifact, citado pela CNN, na página onde rebate esta história.

Mas o tema não é novo: há, até, uma empresa americana que há vários anos comercializa balas de espingarda com um pequeno reservatório de sangue de porco, para mandar os terroristas “direitinhos para o inferno“.