Aproximam-se as eleições diretas para o PPD/PSD – Partido Social Democrata. Na verdade, as eleições serão apenas em janeiro, mas a pré-campanha pelas distritais e pelas concelhias já começou. E começou também na própria comunicação social, com opiniões a favor de um ou de outro candidato.

A propósito disto, aproveito para dar nota que este não é um artigo de apoio a nenhum deles. Em especial, porque ambos os candidatos que até agora se perfilaram – e parecem ser os únicos com a coragem e a ambição suficientes para tal, embora houvesse espaço para mais – terão ainda várias perguntas a responder, ao longo de todo este processo que culminará no dia 13 de janeiro de 2018.

O que já sabemos todos é que estes dois “novos” adversários e velhos arquirrivais sentaram-se lado a lado em congressos, mas cada um seguiu o seu caminho, tendo, curiosamente, ambos liderado as duas maiores cidades do país. Santana Lopes avançou por várias vezes para a liderança do partido. Rui Rio ameaçou por várias vezes avançar.

É quase um déjà vu do ideário laranja, que mobiliza as diferentes tendências da “máquina” partidária – máquina esta que tem desempenhado sempre um papel fulcral em todas as eleições internas –, mas resta saber se aqueles a que poderíamos chamar “militantes anónimos” e os demais cidadãos portugueses estão suficientemente convencidos com estas duas candidaturas. Particularmente, numa época em que tanto se fala de descrença na política e nos políticos. Num sistema em que os atores são quase sempre os mesmos e em que existe pouca renovação. Portanto, parece saber a pouco…

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Fazem falta na arena pública políticas e políticos de nova geração. Com os olhos postos no futuro e que não se deixem influenciar pelos conflitos entre os atores do passado. Que valorizem a capacidade dos mais experientes, mas que tragam também mais rasgo e proximidade entre a política e a realidade do país e das pessoas.

Não havendo candidatos para uma nova geração de políticas e de políticos, o ponto positivo de Rio e Santana serem os únicos a avançar é que os militantes e os restantes portugueses já os conhecem. Portanto, já sabem o que esperar de cada um deles. E, há que reconhecer, ambos têm imensa experiência e são nomes enormes do PSD e da política portuguesa.

O ponto negativo poderá ser o facto de os militantes e os portugueses os conhecerem demasiado bem, tal como o seu passado. Isto apesar dos candidatos procurarem mostrar que estão mudados ou que, noutros tempos, adotaram determinados atos porque não havia alternativa e assim tinha de ser.

Aqui chegados, são mais as perguntas do que as respostas sobre o futuro do PSD. Particularmente o que os motiva a avançar, depois de tantos anos de atividade política. E, analisando os seus percursos e os seus atuais discursos, estarão os portugueses ainda dispostos a dar-lhes crédito?

É, portanto, a altura fundamental para que os candidatos digam aos eleitores de que forma vão promover um mais forte crescimento económico do país e, simultaneamente, preparar Portugal para uma era que se pretende ser caracterizada por uma maior mobilidade social e qualidade de vida no tecido populacional português.

Neste sentido, colocam-se aqui apenas algumas das questões que merecem resposta por parte dos candidatos e que poderão representar uma importante mais-valia naquilo que será uma oposição séria e incisiva ao governo socialista, apoiado pelas esquerdas, e – porque não dizê-lo? – para um futuro governo:

  • Estão os candidatos disponíveis para debater a possibilidade de garantir às famílias a opção por diferentes modelos de educação, saúde ou habitação, como garantia de uma maior igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos?
  • Consideram possível reduzir os impostos sobre o trabalho e sobre as empresas, para garantir mais qualidade de vida e mais emprego ou, por exemplo, assumir compromissos de 4 anos de estabilidade fiscal?
  • Preveem fazer alguma reforma das instituições como, a título de exemplo, reduzir o número de deputados ou implementar círculos uninominais, de forma a criar uma ligação mais forte entre deputado-eleitor?
  • Propõem soluções para uma verdadeira reforma do Estado, em que a Administração central seja responsável pela regulação e a Administração local pela execução das políticas concretas e que verdadeiramente melhoram a vida das pessoas? Quererão mais proximidade e participação nas políticas públicas? Terão propostas para uma maior valorização da Administração pública?
  • Pensarão implementar políticas para uma governação mais participada, em que os cidadãos possam ser ouvidos nos processos decisórios e legislativos? Quais seriam, por exemplo, as suas opiniões sobre um Orçamento Participativo do Estado?
  • De que forma pensam os candidatos atrair as melhores e mais competitivas start-ups e multinacionais do mundo? Porque não aproveitar o Web Summit de Lisboa e avançar com um plano para um Portugal Web Country, procurando incentivar as indústrias mais dinâmicas, inteligentes e também as mais sustentáveis (ou low-carbon)?
  • Será possível, na perspetiva dos candidatos, assumir uma opção pelo pleno emprego? Pretenderão consolidar o tecido empresarial português e garantir mais apoio no acesso ao financiamento às PME, apostando mais em critérios de qualidade e viabilidade de cada negócio?
  • Que visão de futuro têm para o ordenamento do território, com especial preocupação com a floresta? E para chamado “turismo da co-criação” e de valor acrescentado, valorizando o nosso património cultural e a biodiversidade? Como poderemos encaminhar parte das atividades turísticas das nossas maiores cidades para o turismo histórico, rural e de natureza, de forma a promover a coesão territorial?
  • Terão os candidatos propostas para reforçar os serviços nos centros de saúde, garantindo mais especialidades e maior proximidade aos cidadãos no acesso à saúde?
  • E, como já deu para perceber que o governo de Costa está satisfeito com o atual sistema de segurança social idealizado por Vieira da Silva, que caminho propõem ambos os candidatos para garantir a sustentabilidade da Segurança Social e apostar na integração e no diálogo intergeracional, a par da implementação de políticas de envelhecimento ativo?

Aqui ficam algumas ideias a desenvolver. Esperamos que este longo período de pré-campanha sirva para que os candidatos que tiveram coragem de avançar dissipem as dúvidas e seja possível aos militantes escolher, em consciência, qual será o melhor líder.

Para já, parece ser Santana quem está mais próximo de ganhar o partido, uma vez que tem consigo a maioria da famosa máquina do PSD. Mas isto ainda agora começou. Depois faltará ainda ganhar o país. Contra António Costa, contra as esquerdas. Com Assunção Cristas revigorada, depois das autárquicas em Lisboa…

Uma coisa é certa. Seja com que líder for e a bem de uma democracia saudável, o PSD tem de assumir-se como a verdadeira alternativa não socialista para Portugal. Com um novo fôlego, com rasgo e mais proximidade ao dia-a-dia das pessoas. Só assim poderá ambicionar vencer, novamente, as eleições legislativas e voltar a ser governo.

Investigador visitante na University of Surrey, Reino Unido, doutorando em Direito Público na Universidade Nova de Lisboa