Segundo se lê numa recente entrevista do ministro de Estado Siza Vieira , este convidou o novo líder do PSD para as «reuniões de condomínio» do governo. Só ainda não se conhece a resposta de Rui Rio. É certo que a liderança de Passos Coelho ficara abalada desde o dia em que António Costa obteve o apoio – e como não o obteria? – do BE e do próprio PCP, que devem ter caído das nuvens quando o líder do PS lhes telefonou em 2015, para alterar as regras não escritas da governação democrática em Portugal, a qual excluía até então a participação da extrema-esquerda no governo do país, conforme houve aliás quem o previsse.

Agora, foi ao contrário: segundo o citado ministro de Estado, com a entrada de Rui Rio para o condomínio, era o PSD que voltaria à nova «normalidade democrática»! Logo a seguir, o presidente do PS tirava as dúvidas que pudessem subsistir e garantia ao mesmo diário que «o PS não viabilizará um governo minoritário que possa sair das legislativas de 2019», subentendendo-se pois que a geringonça continuará enquanto o PS necessitar dela para segurar o poder, porventura mesmo que obtivesse a maioria absoluta nas próximas legislativas, ou seja, enquanto o PS mandar no «condomínio».

Resta saber – repito – o que tem o novo líder do PSD a dizer a este respeito. E, já agora, a respeito do que um dos vice-presidentes do CDS, Nuno Melo, deu a entender ao falar de listas separadas do CDS e do PSD… Numa palavra, o PSD saído do último congresso tem tantas possibilidades de vir a condicionar o PS quantas as que tem de atingir a maioria absoluta nas eleições de 2019, mesmo aliado CDS. Com efeito, a actual direcção do PSD nunca esteve tão desacompanhada como hoje, a menos que o «diabo» anunciado por Passos Coelho surja rapidamente, o que não é previsível a tão curto prazo. A responsabilidade política é de quem sempre esteve contra o líder anterior e convenceu Rio a candidatar-se!

Os incidentes que se multiplicaram com as mal vindas nomeações para a direcção do partido da antiga bastonária da Ordem dos Advogados, Elina Fraga, e do presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro, não só irão perseguir as preocupações éticas e jurídicas de Rui Rio, como já mostraram estar por trás da desunião dos deputados. Por seu turno, esta desunião já levou ao lamentável resultado da eleição para líder da bancada parlamentar em que voltaram à memória os fantasmas de Fernando Negrão e da sua demissão forçada da Polícia Judiciária.

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Dificilmente as coisas poderiam ter corrido pior não só ao novo líder e às suas aventurosas indigitações como ao próprio partido no seu conjunto, cujo programa, apesar de a esmagadora maioria do eleitorado desconhecer os programas partidários, é a última esperança do PSD. O Professor David Justino, antigo ministro e presidente até há pouco do Conselho Nacional de Educação, é o principal garante de que saia dali não só um programa de governo com princípio, meio e fim, bem como soluções e meios, mas sobretudo um programa de oposição firme e claro.

Na fase política em que o país se encontra, amortecida como está a insatisfação social pelo relativo crescimento económico mundial, meras propostas do PSD destinadas a melhorar aqui ou ali as iniciativas que o governo pretenda tomar serão inúteis para mobilizar o eleitorado que o abandonou desde 2015. Do mesmo modo, o PS já fez saber que não correrá o risco de alienar o apoio dos seus aliados da «esquerda» em benefício da chamada «direita» e ainda tem margem para perder os votos que muitos eleitores lhe deram antes de saber que o PS iria aliar-se com o BE e o PCP. Em suma, não serão simples medidas cosméticas ou visões a muito longo prazo que mobilizarão os abstencionistas das eleições legislativas, presidenciais e autárquicas que se sucederam nos últimos dois anos, sempre perto ou acima dos 50%.

Por mais que isso pareça inquietar a actual direcção do PSD, esta só tem como alternativa opor-se diametralmente à actual política governamental de reversões sócio-económicas e de partidarização do funcionalismo público e das empresas estatais, bem como da própria segurança social, pensões incluídas, as quais apenas prolongam os défices e, portanto, a continuação da dívida; opor-se igualmente às pseudo-reformas destinadas a satisfazer reivindicações corporativas oportunistas, como as encabeçadas pela Dr.ª Elina Fraga; e, finalmente, promover os interesses do chamado sector privado – empregados e patrões – que é aquele que sustenta a economia do país e a pode dinamizar, simultaneamente, no quadro europeu e fora do controle partidário. O contrário disso será eleitoralmente inútil e politicamente regressivo.