Paulo Rangel e Nuno Melo podem levar os dias a atacar o PS que os socialistas já escolheram o alvo a abater: o governo. E até aproveitaram o dia em que o líder do CDS andou a pisar o mesmo distrito (Aveiro) para o fazer com mais afinco. Se até aqui os assuntos europeus entravam na campanha socialista como parte importante do discurso – ou servindo de ligação para os temas nacionais -, esta terça-feira foi reduzido ao mínimo. Neste PS, com um Seguro em presença reforçada, interessa usar estas eleições para derrubar o executivo de coligação.

A noite de discursos começou com Pedro Nuno Santos a garantir um “PS unido” contra tudo e contra todos os ataques. PS, “que há só um”, desde Mário Soares a José Sócrates e António José Seguro. A linha de discurso estava traçada: estava escolhida a hora de defender a herança do passado para pedir a queda de um governo que, para os socialistas, não tem defendido os interesses de Portugal lá fora. E para o ilustrar, Pedro Nuno Santos, presidente da federação de Aveiro, até repescou uma frase que o fez estar nos holofotes das críticas em 2011: “De Passos Coelho ninguém esperaria que fizesse tremer as pernas dos banqueiros alemães”, disse.
Nos discursos de terça-feira à noite, as críticas subiram de tom contra aquilo que Assis classificou de “uma campanha de calúnia contra” o PS. “A direita convoca fantasmas, invoca falsas indignações. Empenha-se numa campanha de calúnias contra todos nós. Os que já nos representaram no passado, aqueles que são os candidatos do presente e aquele que será no futuro candidato à liderança de governo”. “Querem atacar-nos a todos”, reforçou. E porquê? “Eles estão com medo. Não é do PS, é dos portugueses, do voto dos portugueses”. Na defesa do passado recente, o candidato socialista às eleições de domingo ainda reservou uma palavra especial para Cavaco Silva.

“O mesmo Presidente da República que se indignava há não muito tempo com uma austeridade que perante esta era uma austeridade minúscula, que os governos socialistas se viram obrigados a aplicar, foi o mesmo Presidente da República que conviveu pacificamente com as doses cavalares de austeridade” [do atual governo].

Seguro tinha chegado à sala pouco antes do discurso de Assis. E terá sido por isso que perdeu a linha da defesa do passado, inclusive de José Sócrates. O líder do partido concentrou forças no ataque ao governo. Num tom quase pedagógico, perguntou diretamente a reformados, funcionários públicos, trabalhadores do setor privado e jovens, grupo a grupo, pedindo resposta da plateia: “Têm alguma razão para votar nos partido do governo?”. A resposta foi sempre negativa. E o líder do PS deu-lhes a “palavra de honra” que lhes devolveria as pensões.

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Se uns defendem mais o passado sem pudor – Pedro Nuno Santos e Assis – Seguro prefere colar o resultado de domingo a uma leitura nacional: “Não vamos ter umas eleições quaisquer, nem de segunda ordem. Vamos ter a primeira eleição nacional depois de Pedro Passos Coelho ser primeiro-ministro. Os portugueses não podem perder essa oportunidade de dizer que não querem esta política (…) que não aceitam mais ser governados por um primeiro-ministro que faz do engano a sua ação política”.

Ataque à esquerda

O PS defende-se à direita e à esquerda. Assis tinha criticado de manhã os ataques dos partidos à esquerda e não ficou sem resposta. Durante uma ação de campanha nas instalações da Lisnave, em Setúbal, o cabeça de lista da CDU aconselhou calma aos socialistas: “Há algumas almas inquietas no PS com o crescimento na CDU. (…) Essas almas terão de se acalmar”. João Ferreira repetiu o apelo feito ontem em Santarém. É preciso “enfraquecer os partidos da troika”, nos quais se inclui “também o PS”.

Em Guimarães, Marisa Matias, a cabeça de lista do Bloco de Esquerda, aproveitou a visita a uma unidade hospitalar onde lembrou que “o Governo quer matar o Serviço Nacional de Saúde e impor a lei da rolha aos profissionais de saúde”.