A morte de um jovem palestiniano, cujo corpo queimado foi encontrado na quarta-feira às portas de Jerusalém, está a reavivar a tensão israelo-palestiniana e a envenenar as relações internacionais. A morte violenta do jovem de 16 anos está a ser investigada pela polícia como uma possível vingança de Israel pelo sequestro e posterior assassinato de três jovens israelitas na Cisjordânia. A provável ligação entre os dois crimes já está a ser responsável pelos confrontos mais intensos dos últimos anos anos na zona ocupada de Jerusalém Oriental.

A morte do adolescente palestiniano Muhammad Abu Khdeir acontece apenas um dia depois do funeral dos três israelitas que estavam desaparecidos há duas semanas e que, na segunda-feira, foram encontrados sem vida. Na altura, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu apressou-se a responsabilizar o grupo islamita palestiniano Hamas e deixou claro o aviso: “o Hamas vai pagar”.

Vingança?

No Facebook, foi criada pouco depois uma página chamada “O povo de Israel exige vingança”, que em dois dias – tempo que durou até ser apagada – conseguiu mais de 35 mil likes. O New York Times fala esta quinta-feira numa nova etapa do conflito, “mais pessoal”, porque envolve vinganças individuais, e onde ambos os lados são simultaneamente vítimas e criminosos. Mas o assunto é tudo menos leviano e qualquer decisão de retaliação por parte de Israel terá consequências graves, arriscando desencadear uma nova etapa de guerra num conflito antigo.

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A primeira reação de Israel foi efectivamente lançar ataques aéreos a Gaza, deter centenas de ativistas do Hamas, encerrar instituições e ordenar a demolição de casas naquela faixa controlada pelo grupo islamita. Mas agora, com a descoberta do corpo do jovem palestiniano, que as autoridades estão a investigar como um provável crime de vingança, o Governo israelita pede contenção e afasta responsabilidades. Benjamin Netanyahu classificou o crime como “abominável” e pediu aos israelitas para “respeitarem a lei” e não fazerem justiça pelas suas próprias mãos. Dentro do Governo israelita outras vozes juntaram-se ao primeiro-ministro, com o ministro da Segurança Interna a deixar em aberto todas as opções que não a de vingança nacionalista e o ministro da Justiça a reagir às declarações públicas de vingança, dizendo que, se a morte do jovem foi por represália, então equivalia a um “ato de terrorismo”.

As condições dos dois raptos foram semelhantes. De acordo com o New York Times, que cita relatos de testemunhas, os adolescentes israelitas – Eyal Yifrach, de 19 anos, Naftali Fraenkel e Gilad Shaar, de 16 – desapareceram a 12 de junho quando tentavam pedir boleia para casa à saída de um seminário judaico, na zona ocupada da Cisjordânia. Muhammad Abu Khdeir, também de 16 anos, terá sido forçado a entrar num carro perto da mesquita do bairro onde vivia, em Shuafat, Jerusalém Oriental, quando esperava por amigos para ir rezar. O corpo foi depois largado, queimado, numa floresta às portas de Jerusalém.

Confrontos dia e noite

A descoberta do cadáver levou a mais de 12 horas de intensos confrontos, que tiveram o seu epicentro no próprio bairro de Shuafat. Jovens palestinianos começaram por bloquear as estradas e atirar pedras contra a polícia israelita, que reagiu com balas de borracha e granadas atordoantes. Os confrontos, que foram mais intensos junto à casa da família Abu Khdeir e à mesquita onde foi raptado, arrastaram-se durante todo o dia e noite, até amanhecer, apesar do calor intenso e do período do Ramadão. Segundo o Crescente Vermelho palestiniano, mais de 50 moradores ficaram feridos.

Durante a noite, em Gaza, um porta-voz do exército israelita confirmou que a aviação atacou 15 posições islamistas em retaliação contra o lançamento de cerca de 20 ‘rockets’ a partir da tarde de quarta-feira. Segundo a mesma fonte, aviões de combate e helicópteros artilhados atingiram campos de treino e armazéns de armas ligados à ala militar do movimento islamita Hamas. A Al-Jazeera diz que os confrontos desta semana são já os “maiores dos últimos anos”.