Os últimos meses têm sido marcados pela tensão militares entre elementos afetos à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e as tropas do Governo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, permaneceu muito tempo em parte incerta, escapando aos ataques feitos pelas tropas governamentais.

Depois de vários incidentes, foi assinado um novo acordo entre a Renamo e o governo, pouco antes do início da campanha para as eleições gerais de 15 de outubro, mas esta paz pode ser ameaçada com resultados eleitorais excessivamente negativos para aquele movimento rebelde.

Em campanha, Dhlakama tem sido recebido apoteoticamente em vários locais do país, numa dinâmica que tem surpreendido muito os observadores mas, em entrevista à Lusa, o analista responsável pelo acompanhamento de Moçambique na EIU, a unidade de estudos e análise económica da revista britânica The Economist, Sebastien Marlier, afirma que a perspetiva mais realista para o resultado das eleições presidenciais no país continua a ser a “vitória confortável” da Frelimo.

E também é esperada a subida do MDM ao estatuto de maior partido da oposição, disse o analista.

“Neste contexto, é possível que a Renamo possa ficar frustrada com os resultados e Dhlakama possa decidir deixar a cena política outra vez”, argumenta o analista, lembrando que “as decisões dele são sempre inesperadas” e vincando que “apesar de o resultado eleitoral ser incerto, o que é certo é que as eleições vão ser muito importantes para o futuro da economia de Moçambique”.

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No relatório de setembro sobre o país, a que a Lusa teve acesso, a EIU pormenoriza que “se a Renamo não ficar satisfeita com os resultados eleitorais – uma possibilidade séria, dada a probabilidade da vitórida Frelimo – pode ser tentada a regressar às táticas militares para manter a influência política, considerando que esta estratégia tem sido relativamente bem sucedida em assegurar concessões por parte do Governo Frelimo”.

Em entrevista à Lusa a partir de Londres, Sebastien Marlier elogia o MDM, um partido que “comportou-se muito bem nas eleições locais de 2013 e agora vai estar em todos os distritos eleitorais, está bem organizado, são apreciados pela população e lançaram uma campanha a sério há meses”.

O analista destaca ainda que apesar de considerar que a Frelimo vai ganhar de forma “confortável”, o partido está a perder influência: “O domínio da Frelimo está a diminuir e estas eleições vão ser uma maneira importante de perceber quão longe estamos nesta tendência de perda de confiança na Frelimo, ou seja, quantas pessoas vão decidir votar contra eles”.

Questionado sobre a razão de antecipar um declínio da Frelimo, Marlier respondeu que “o que se pode dizer é que a Frelimo, nos últimos 20 anos, com a ajuda do Fundo Monetário Internacional e dos doadores internacionais, tem conseguido garantir a estabilidade macroeconómico e tem feito reformas positivas em termos de investimento estrangeiro”.

O problema, sublinha, está nos “anos recentes e nos desafios enormes que o próximo Governo vai encontrar, seja ele de que partido for”.