O primeiro-ministro grego arrisca uma rebelião dentro do partido Syriza caso leve a votos no Parlamento a extensão do acordo com as instituições externas obtida na semana passada. Vários deputados do Syriza estão insatisfeitos com o que consideram ter sido uma cedência praticamente em toda a linha de Alexis Tsipras perante as exigências do Eurogrupo e das instituições credoras. Um responsável do partido terá, mesmo, dito que pode ser necessária uma “reafirmação do mandato popular”. O primeiro-ministro não terá decidido, para já, se o acordo de extensão será vertido em lei após votação no parlamento ou sem que esse procedimento tenha lugar.

Se for decidido que não iremos recuar [no acordo obtido com a Europa] e levar [a assistência externa] até ao fim, então uma reafirmação do mandato popular será necessária“, disse um parlamentar do Syriza ao Capital.gr. “O que acordámos com os nossos credores nunca será implementado. E todos sabemos que assim é”, afirmou um colega de Alexis Tsipras no governo grego, ao cabo de mais uma reunião tensa da Comissão Central do partido para discutir o acordo com o Eurogrupo – uma reunião em que se notaram “objeções graves” ao acordo por parte de alguns parlamentares.

O jornal Ekathimerini escreveu no final da semana passada que Alexis Tsipras ainda não tinha decidido se o Parlamento irá ou não votar a extensão. Na quarta-feira, dia em que houve uma reunião de 11 horas do grupo parlamentar do Syriza, Tsipras insistiu numa votação informal do acordo: dos 149 deputados do Syriza, cerca de 30 votaram contra o acordo com o Eurogrupo ou abstiveram-se.

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“As tensões dentro do novo governo grego podem em breve agravar-se”, escreve o economista Robert Wood, do Berenberg Bank, em nota de análise. O banco continua a ver uma probabilidade de 25% de uma saída da Grécia da zona euro, 50% de que Tsipras continue a ceder ao Eurogrupo e se mantenha no rumo das reformas e uma probabilidade de 25% de que o governo caia, o que poderia dar lugar a um governo mais moderado. “O tempo dirá”, escreve Robert Wood.

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Enquanto enfrenta uma pressão interna mais forte, o governo de Alexis Tsipras está a ser incentivado pelo Eurogrupo a respeitar o acordo obtido na semana passada. Como? Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo, afirmou ao Financial Times que está disposto a fazer “um primeiro desembolso” de parte dos 7,2 mil milhões de euros da última tranche do segundo resgate, que está suspensa à espera de nota positiva na quinta e última avaliação.

Estes recursos financeiros só serão transferidos, sublinhou Dijsselbloem, se a Grécia começar já a aplicar algumas reformas. “A minha mensagem para os gregos é: comecem a aplicar o programa mesmo antes de estar terminado todo o trabalho de renegociação”, afirmou Dijsselbloem. “Há componentes [do programa] que podem começar a aplicar já. E se o fizerem poderá haver um primeiro desembolso algures em março”, notou o presidente do Eurogrupo, sublinhando que para que isso aconteça “serão necessários progressos, e não apenas intenções“.

A Grécia tem de pagar 310 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) na sexta-feira. Ao longo do mês, ao FMI, a Grécia tem de pagar um total de 1.590 milhões, não havendo certezas sobre se há dinheiro nos cofres do Estado para reembolsar essa dívida.

Além de exigir o pagamento dos lucros que os bancos centrais do eurossistema tiveram com a compra de dívida grega – algo que o Eurogrupo terá de aprovar para que se concretize – o governo grego quer poder emitir mais dívida de curto prazo. Mas, para isso, precisa de uma autorização do BCE para que os bancos gregos possam levar mais dívida de curto prazo a Frankfurt e usá-la como garantia para obter nova liquidez. Para já, contudo, o BCE tem-se recusado a aumentar o limite.