O economista alemão Christoph M. Schmidt alertou que, “se não houver reformas estruturais”, a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) “não será suficiente” para a recuperação da economia da zona euro. Schmidt, que falava em entrevista à Lusa à margem do II Fórum do BCE na semana passada em Sintra, concordou com Mario Draghi, presidente daquela instituição, afirmando que “a recuperação económica está em curso e, por isso, não há desculpa para [os países] não fazerem as reformas estruturais que são altamente necessárias”.

“O BCE fez muito e algumas economias individuais fizeram muito, como Portugal, mas outras economias da União Europeia não fizeram tanto, como França, por exemplo. Ainda há necessidade de reformas estruturais no mercado de trabalho e dos serviços e, enquanto essas reformas não forem feitas, não estamos fora da crise”, defendeu o presidente do RWI, um instituto de investigação científica da Alemanha.

Apesar dos elogios que faz ao BCE, Schmidt considera que Frankfurt pode ter acionado os instrumentos de política monetária não convencional, como o programa de compra de dívida soberana, “demasiado cedo” e defende que “seria mais avisado avançar com o ‘quantitative easing’ numa altura em que existissem realmente tendências deflacionistas”.

No entanto, agora que o BCE avançou com a ‘bazuca’ da política monetária, Schmidt considera que “a bola está do lado dos Governos” e reitera que “não parece uma boa ideia [a Europa] comprometer-se com uma coisa e depois quebrá-la no primeiro momento”, pelo que seria necessário que a Bruxelas tivesse “uma posição mais forte” com os países que não cumprem as regras europeias.

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Quanto ao argumento de que os países com excedentes orçamentais deviam estar a gastar mais para assim aumentar o consumo e, dessa forma, dinamizar a economia europeia, Christoph M. Schmidt afirmou que, no caso da Alemanha, “se se olhar com atenção, vê-se que o espaço orçamental não é assim tão grande”, tendo em conta “as mudanças demográficas que estão a chegar e que não estão refletidas nos números”.

O economista reconhece que “há quem defenda que, se houvesse um programa de investimento público na Alemanha em infraestruturas, haveria efeitos de contágio positivos significativos para os outros países”, mas discorda desse argumento. “Nenhum modelo comprova essa ideia (…) Os efeitos, na verdade, seriam muito pequenos”, disse, acrescentado que “não há muito a ganhar com um programa de investimento”.

Por oposição, Christoph M. Schmidt entende que “a melhor política” que a Alemanha podia seguir neste momento era “tomar medidas para tornar o investimento privado mais atrativo”, reformando o sistema fiscal para as empresas ou investindo mais em investigação e desenvolvimento nas universidades.

Para Schmidt, “a única forma” de a economia europeia retomar o crescimento é se “os países da zona euro que têm um crescimento assim não tão forte fizerem as reformas que Mario Draghi estava a pedir” e notou ainda que “Portugal, a Irlanda e mesmo a Grécia estão a fazer muitas reformas, mas França ou Itália, por exemplo, não”.

O professor universitário disse ainda que “os países com programas, especialmente Portugal, são uma história de sucesso porque tiveram de fazer uma série de ajustamentos no início da crise, passaram por uma recessão profunda e ficaram com um desemprego alto, mas depois recuperaram e, passo a passo, deverão entrar num bom ritmo de crescimento”.

A solução para Portugal – acrescentou – passa por “realocar o trabalho dos setores domésticos para os exportadores e diminuir o défice externo” e depois, “ano após anos”, resolverá o seu problema.

Christoph M. Schmidt é o presidente do RWI, um instituto de investigação económica da Alemanha com sede na cidade de Essen. O economista alemão é também professor da Ruhr-Universität Bochum e é investigador do Centre for Economic Policy Research (CEPR), em Londres, e do Institute for the Study of Labor (IZA), em Bona.