O “Não” ao direito de voto dos imigrantes nas legislativas venceu de forma esmagadora o referendo que se realizou este domingo, no Luxemburgo, com 78% dos votos, frustrando as aspirações de muitos portugueses, que representam 16% da população. No entanto, o “Não” também venceu em Larochette, a “aldeia mais portuguesa do Luxemburgo”.

Apesar da vitória maciça do “Não”, representantes da comunidade portuguesa consideraram “positiva” a realização do referendo, defendendo que representou “um passo em frente para a mudança de paradigma na sociedade luxemburguesa”, disse à Lusa Mirandolina Fernandes, que faz parte da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL). “Houve brechas que se abriram na sociedade luxemburguesa e nas mentalidades, e as vitórias não se fizeram com uma só batalha”, defendeu.

Para a lusodescendente, que chegou ao país em 1967 e tem nacionalidade luxemburguesa desde 1975, a vitória esmagadora do “Não” demonstra “a mentalidade conservadora do país, traumatizado com a ocupação nazi durante a Segunda Guerra Mundial”, o que leva a “um sentimento enraizado de ocupação pelos estrangeiros, que são vistos como um perigo para a identidade nacional”.

A questão contemplava apenas o direito de votar e não de ser eleito, mas houve partidários do “Não” que temiam a formação de partidos de estrangeiros e mesmo a eleição de um primeiro-ministro português. Um dia antes do referendo, numa carta publicada no Luxemburger Wort, o maior jornal do país, “uma senhora luxemburguesa dizia que não queria um dia vir a ter um chefe de Governo português”, lamentou Mirandolina Tasch.

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Alguns partidários do “Não” também receavam que o alargamento do direito de voto aos estrangeiros levasse a que “se passasse a falar português nas escolas”, uma das objeções invocadas durante um debate com o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel.

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@ Vera Novais/Observador

O primeiro-ministro luxemburguês reconheceu a derrota do Governo nas três questões. “A mensagem é clara e foi bem percebida”, disse Xavier Bettel numa breve alocução, prometendo que o Executivo vai respeitar os resultados. Durante a campanha, que polarizou o país, Xavier Bettel defendeu que “nenhum país no mundo, exceto o Dubai, tem um défice democrático” tão grande como o Luxemburgo, por causa da exclusão dos estrangeiros das eleições nacionais.

A participação dos estrangeiros na votação tem o apoio do Governo, formado pelo Partido Democrático, Socialistas e Verdes. Já o partido nacionalista luxemburguês ADR, que é contra o direito de voto dos estrangeiros, agradeceu no Twitter aos eleitores que votaram “não”. O partido cristão-social (CSV), do antigo primeiro-ministro Jean-Claude Juncker, atual presidente da Comissão Europeia, fez campanha contra o voto dos estrangeiros nas legislativas, propondo em alternativa facilitar o acesso à dupla nacionalidade.

Segunda uma sondagem divulgada no início de Maio, a maioria dos Luxemburgueses também reconhecia que há um problema no país pelo facto de 46% da população não poder votar em eleições nacionais. Apesar disso, o “Sim” recolheu apenas cerca de 22% cento dos votos, correspondentes a 44 mil eleitores dos cerca de 246 mil inscritos.

O “Não” venceu na “aldeia mais portuguesa do Luxemburgo”

A vitória do “Não”, no referendo, decepcionou alguns dos moradores da pequena localidade de Larochette, com mais de 50% de portugueses. “Para mim esse resultado não é bom, porque toda a gente devia ter o direito de votar, sejam os luxemburgueses, sejam os portugueses”, disse à Lusa Carlos Alberto, há 43 anos no Luxemburgo.

Na pequena localidade, só 27% dos eleitores votaram “sim” no referendo, reservado aos luxemburgueses, que constituem cerca de 40% da população.