Estradas destruídas, carros parcialmente soterrados e pedras da calçada arrancadas é o cenário ainda visível na baixa de Albufeira, 48 horas depois da chuva intensa que se abateu no domingo sobre o Algarve.

A principal zona comercial da cidade, onde se situa a maioria das lojas, restaurantes e bares, foi uma das mais atingidas pela intempérie, com muitas dezenas de estabelecimentos encerrados, cujos proprietários e empregados tentam, pelo segundo dia, remover a lama e os destroços acumulados pela força da água.

Os serviços da Câmara de Albufeira – que entretanto criou uma bolsa de voluntários para ajudar nas limpezas e que já reúne centenas de pessoas -, também não têm tido mãos a medir para os trabalhos de limpeza e estão concentrados, maioritariamente, no centro da cidade, com máquinas para remover o entulho.

A funcionária de uma loja de artesanato situada na Avenida da Liberdade contou à Lusa que os estragos causados pela chuva “são bastante elevados”, não só pelo facto de a água ter entrado na loja, como por ter também invadido as arrecadações onde se encontravam armazenados muitos artigos.

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“A maior parte do artigo está destruído, entrou muita água, que ficou acumulada nas arrecadações e não dá para aproveitar quase nada, só o que estava mais alto, o resto está tudo cheio de lama, sujo, molhado e estragado e é para deitar fora”, disse a lojista Maria José, acrescentando que o patrão tem mais duas lojas na mesma avenida.

O dono das três lojas, de artesanato, bijutaria e acessórios, “felizmente tem seguro”, disse a funcionária, acrescentando que apesar de não se saber “até que ponto” os seguros vão cobrir os estragos, em princípio “têm cobertura para este tipo de calamidades”, o que deverá atenuar o prejuízo.

Na mesma avenida, onde dezenas de carros permanecem imobilizados entre os destroços, Fernando Silva relatou à agência Lusa o momento em que aquela artéria se transformou num “mar”, impedindo-o de retirar o seu carro, ali estacionado poucas horas antes de as cheias atingirem o seu pico, o que terá acontecido cerca das 15:00.

“Nunca me lembro de ter havido uma chuva tão intensa como esta, estacionei era uma hora (13:00) e às três horas (15:00) tentei vir recuperar o carro, mas já não consegui, já era um mar de água, até mesmo para sair de casa tive que sair pelas traseiras do prédio porque a porta principal não conseguia abrir”, contou Fernando Silva.

Além do carro, o residente na baixa há 40 anos tem agora também de enfrentar o prejuízo na pastelaria da qual é proprietário, cujo recheio ficou completamente danificado, situação agravada pela falta de eletricidade, que fez com que o conteúdo dos frigoríficos ficasse todo estragado.

Tanto o carro como a pastelaria de Fernando Silva não têm seguro contra intempéries, um seguro extra “que quase ninguém faz”, porque as companhias “não esclarecem bem” e como “é muito caro, as pessoas não estão para pagar um seguro tão elevado”.

Uma residente na Avenida da Liberdade, Ana Rita, relatou à Lusa que a chuva a obrigou a ficar “barricada” em casa e que durante 24 horas não teve água nem eletricidade, o que fez com que ficasse incontactável, já que o seu telemóvel ficou sem bateria e não tinha como carregá-la.

“Ouvia barulhos de carros a bater uns nos outros e a galgar a água, um estrondo enorme e alarmes a tocar por todo o lado”, contou, enquanto observava pela primeira vez a estrada junto à sua casa, um dos principais acessos da cidade em direção à baixa, que ficou destruída pela chuva e intransitável.