Já o disse “três vezes” e hoje, dia em que o último dos três partidos anuncia que há acordo para governar, reitera. Luís Marques Mendes acredita que é “clarinho” que o Presidente da República vai dar posse a António Costa como primeiro-ministro, mas também acredita que Cavaco Silva vá primeiro aconselhar-se junto de várias personalidades e parceiros sociais antes de indigitar o líder do PS.

No seu habitual comentário de domingo à noite na SIC, o ex-líder do PSD, deixou de lado a hipótese de Cavaco Silva se preparar para convocar o Conselho de Estado quando o Governo do PSD/CDS cair no Parlamento – isso não acredita -, mas admitiu que o Presidente deverá ouvir primeiro “os parceiros sociais e várias personalidades da área económica”. Porquê? Para perceber como veem a solidez do acordo das esquerdas e, sobretudo, para perceber se “as medidas apresentadas garantem ou não a manutenção da trajetória de crescimento” até aqui seguida. 

Só final dessa ronda Cavaco chamará os partidos e então aí não terá outra alternativa senão a de indigitar António Costa a formar Governo. “Até me faz confusão como é que algumas pessoas, mesmo do PS, continuem a achar que Cavaco pode dar posse a um governo de indicação presidencial ou deixar o governo em gestão”, disse, lembrando que qualquer nome indicado pelo Presidente para chefiar um governo de transição seria chumbado no Parlamento pela maioria de esquerda, e que a possibilidade de deixar o governo em gestão também é descartada porque deixaria o país “num pântano completo” com a esquerda a “fazer-se de vítima”, e a provocar greves “a toda a hora”.

Os ministros de Costa, segundo Mendes 

No mesmo espaço de comentário, o ex-líder social-democrata faz um exercício de “adivinhação” para desenhar a suposta nova composição de um governo liderado pelo PS. São eles:

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Finanças: Mário Centeno. Marques Mendes põe o nome do economista que tem estado no centro do programa socialista e das negociações as esquerdas como hipótese única, não havendo espaço para mais ninguém.

Economia: Manuel Caldeira Cabral, “que até conhece bem o ministério porque já foi assessor de Manuel Pinho”, ou Elisa Ferreira, a eurodeputada que o comentador acredita que estará no Governo, tendo apenas dúvidas de qual a pasta que lhe será entregue: os negócios estrangeiros e os assuntos europeus também são opção.

Presidência do Conselho de Ministros: João Tiago Silveira, Vieira da Silva ou Porfírio Silva.

Negócios Estrangeiros: Seixas da Costa, Basílio Horta (que presidiu à AICEP e que, segundo Mendes, Costa quereria no Governo, mas não será uma hipótese muito viável porque deverá manter-se na câmara de Sintra), ou Manuel Lobo Antunes, pelo se papel na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia.

Assuntos Europeus: A eurodeputada Elisa Ferreira aparece aqui como a opção mais provável para Marques Mendes, ainda que também destaque a possibilidade de Margarida Marques ficar com a pasta. Com uma ressalva: como é mulher de Porfírio Silva não deverá ir para o Governo, se o marido for, como é esperado.

Defesa: Só há duas opções para Marques Mendes, ou João Soares ou Miranda Calha.

Trabalho e Segurança Social: Um nome único, Pedro Marques, ex-secretário de Estado da Segurança Social nos governos liderados por José Sócrates.

Modernização Administrativa: Outro nome único, Maria Manuel Leitão Marques, que foi autora do Simplex no tempo de José Sócrates.

Saúde: Adalberto Campos Fernandes, um gestor hospitalar próximo do PS que Marques Mendes acredita que vai ser muito falado nos próximos tempos.

Agricultura: Capoulas Santos

De acordo com o comentador político, que repetiu várias vezes ao longo da conversa com a jornalista que tinha falado com “amigos do PS”, há ainda outros nomes ligados à ala dos chamados “jovens turcos” do PS que também não serão esquecidos das pastas governativas. É o caso de Marcos Perestrello, presidente da maior federação socialista do país, a de Lisboa, Pedro Nuno Santos, que tem tido um papel central nas negociações com a esquerda, e Fernando Medina, que em todo o caso, não deverá entrar por estar a cargo da presidência da câmara de Lisboa.

Orçamentos e moção de confiança: o compromisso das esquerdas

Luís Marques Mendes avançou ainda que, tanto quanto sabe, não está no documento que hoje foi aprovado pelo Comité Central do PCP qualquer referência à aprovação dos quatro orçamentos da legislatura. O que indica que, apesar de Jerónimo de Sousa ter dito que o acordo com o PS era para “uma legislatura”, nada prova que de facto seja. E um governo que se baseie numa política de “verificações ano a ano” é garante de “instabilidade assegurada”, disse.

“Não chega dizer que isto é para a legislatura, é preciso prová-lo”, disse Marques Mendes, notando que o primeiro orçamento é o “mais fácil”, já que terá só “medidas boas para as pessoas”, o problema são os outros.

Para o comentador, além das garantias sobre os orçamentos, há ainda uma outra questão que as esquerdas devem esclarecer para provar que têm um acordo “estável e duradouro”, como dizem: devem votar uma moção de confiança no Parlamento quando o Governo do PS for empossado. Porque não basta votarem uma moção de rejeição ao Governo da direita, é preciso também, segundo Mendes, “comprometerem-se pela positiva”.