Atualizado pela última vez às 10h57

A televisão estatal do Irão está a noticiar que a Guarda Revolucionária Iraniana já libertou os dez soldados da marinha americana detidos esta terça-feira por entrarem no espaço marítimo do país. A libertação aconteceu depois de o Irão ter recebido um pedido de desculpas dos EUA.

Citando um comunicado da Guarda Revolucionária, a agência de notícias iraniana Fars diz que a libertação foi decidida “depois de conduzida uma investigação técnica e de consultas com os oficiais de segurança nacionais, e também depois de verificar que a violação nas águas da República Islâmica não foi intencional e também de receber um pedido de desculpas da parte deles”. O mesmo comunicado revela ainda que os soldados “foram libertados em águas internacionais”.

Apesar de ainda não existir confirmação oficial por parte dos EUA, a CNN cita um oficial norte-americano que revela que os soldados já estão a bordo do navio americano USS Anzio onde irão realizar os primeiros exames médicos. Isto depois de, segundo a mesma fonte, terem sido escoltados, nos seus próprios barcos, por embarcações iranianas, até águas internacionais, tendo sido aí transferidos para o Anzio.

Entretanto foram sendo publicadas fotografias dos militares enquanto estavam sob custódia:

Antes, a comunicação social iraniana já noticiava que os barcos entraram no espaço marítimo do país por uma “avaria no sistema de navegação”, segundo a CNN. Mas o General da IRGC (sigla em inglês), a marinha da Guarda Revolucionária Iraniana, Ali Fadavi, segundo informa a comunicação social estatal, garantiu que o ministro dos Negócios Estrangeiros apelou ao pedido de desculpas por parte dos Estados Unidos pela “violação” das embarcações norte-americanas. Ali Fadavi esclareceu ainda que os americanos seriam libertados assim que a IRGC recebesse as ordens apropriadas” e depois de realizada uma “investigação”, garantindo que as notícias que davam conta da libertação imediata dos tripulantes eram apenas “especulação”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tudo começou quando esta terça-feira dez soldados (nove homens e uma mulher) da marinha americana foram detidos no Irão, sob custódia da Guarda Revolucionária Iraniana na ilha de Farsi, situada no Golfo Pérsico. Porquê? Pois os dois lados deram as suas versões, que chegaram essencialmente via comunicação social.

Sabe-se que duas pequenas embarcações entraram em águas iranianas mas o Pentágono e o Departamento de Estado americano dizem que os barcos sofreram problemas mecânicos quando realizavam uma missão de rotina entre o Kuwait e o Bahrein perdendo o contacto ainda por razões desconhecida – no entanto esta informação ainda não foi confirmada. O Secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos, John Kerry, afirmou, por sua, vez à CNN que espera que os tripulantes sejam libertados “o quanto antes”.

No entanto, soube-se que os militares estiveram a ser interrogados durante a madrugada, segundo os media iranianos do país citados pela CNN. Uma televisão estatal referiu ainda que os soldados “agiram de maneira não profissional” depois de terem sido detidos. Também a agência de notícias IRNA garantiu que os mesmos militares “estão bem” e que “estão a ser bem tratados”.

Por outro lado, a agência de notícias iraniana Fars afirmara já que as embarcações terão violado o espaço marítimo iraniano por mais de 1 milha [perto de 1.6 quilómetros] revelando ainda que as forças da Guarda Revolucionária Iraniana terão confiscado equipamento das embarcações, para garantir que estes não andavam a “bisbilhotar” em águas iranianas, relata o jornal The New York Times.

Segundo fonte da administração de Obama, o governo iraniano comprometeu-se a libertar os soldados “rapidamente” e em segurança. A garantia foi dada em comunicado por um responsável da administração de Barack Obama, Peter Cook, que explicou a situação, em declarações reproduzidas pelo Business Insider:

Perdemos contacto com duas pequenas embarcações navais da Marinha norte-americana que se deslocavam do Kuwait para o Bahrain. Temos estado a comunicar com as autoridades iranianas, que nos garantiram a segurança e o bem-estar do nosso pessoal. Recebemos garantias de que será rapidamente permitido aos soldados seguirem viagem

Porém, ainda não foram dados quaisquer avanços no sentido da libertação dos soldados, que ainda se encontram detidos numa área em que a Guarda Revolucionária Iraniana habitualmente opera. Segundo a CNN, as forças deste departamento são “muito mais agressivas” do que as forças da Marinha iraniana. A Guarda Revolucionária Iraniana é também responsável pelo lado militar do programa nuclear norte-americano, e ter-se-á oposto ao acordo celebrado com os Estados Unidos, relata o The New York Times.

O secretário de Estado da Defesa norte-americano, John Kerry, entrou em contacto com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Javad Zarif, mal soube da detenção. Um conselheiro sobre Segurança Nacional da Casa Branca manifestou-se ainda esperançoso que a situação se resolva: “Estamos a trabalhar para resolver a situação“, disse.

O candidato republicano Ben Carson reagiu ao acontecimento, apontando críticas à administração de Barack Obama. O presidente tem agendada uma comunicação para as próximas horas, naquela que será a seu última comunicação à nação. Ben Carson afirma que enquanto Obama se preparava para dar ao país notícias sobre os “feitos” recentes da administração, os 10 soldados norte-americanos permanecem cativos em solo iraniano.

Também Jeb Bush (igualmente candidato republicano à presidência do país) veio comentar a situação, acusando a política externa da atual administração, em termos de relações com o Irão, de ser “humilhantemente fraca”:

O presidente dos Estados Unidos terá sido imediatamente informado sobre a situação, revelou a Casa Branca, citada pela Sky News. No entanto, Barack Obama não referiu o assunto no seu último discurso sobre o estado da União no Congresso.

Este não é o primeiro momento de tensão entre os dois países nas últimas semanas. Em finais de dezembro, as forças iranianas fizeram um exercício militar, que consistia no lançamento de mísseis, junto ao estreito de Hormuz. No local navegavam barcos e navios de guerra da Marinha norte-americana.

Em julho de 2015, John Kerry e Javad Zarif, representantes das administrações dos dois países, chegaram a acordo para a restrição do programa nuclear iraniano, em troca do levantamento das sanções económicas aplicadas ao país. O acordo foi alcançado após longos meses de negociação e está previsto entrar em vigor nos próximos dias.

Em 2007, a Marinha Revolucionária Iraniana manteve 15 soldados britânicos cativos durante 13 dias. A medida foi encarada como um sinal de força dado pelas autoridades iranianas quanto à proteção do seu espaço marítimo.