O líder do MRPP, Arnaldo Matos, acusou este sábado o antigo militante Garcia Pereira de estar por trás dos atos de vandalismo registados na sede do partido, na avenida do Brasil, em Lisboa.

Na noite de 17 para 18 de abril alguém pintou com spray as frases “ARNALDO MATOS GRANDE AMIGO DO DAESH” e “SEDE DO DAESH”. A acusação surge no jornal online “Luta Popular”, órgão central do MRPP. Em dezembro, Arnaldo Matos, também conhecido como “o grande educador da classe operária”, disse que os atentados de Paris foram “ato legítimo de guerra”.

Tive oportunidade de explicar ao membro do Comité Central com quem imediatamente discuti o assunto, o Dr. Carlos Paisana, que se tratava de uma campanha provocatória conduzida pelo grupelho liquidacionista Franco/Pereira, agora afastado do Partido e já ligado às atividades da Nova Pide, com vista a ilegalizar o Partido dos comunistas, apresentando-o como um partido terrorista ou amigo de terroristas”, escreveu Arnaldo Matos.

O “grupelho liquidacionista Franco/Pereira” é uma clara referência a Conceição Franco e a Garcia Pereira, que até novembro eram dois dos quatro membros do Comité Permanente do Comité Central do MRPP. Nessa altura, demitiram-se.

(Crédito: Site “Luta Popular”, do Órgão Central do MRPP)

No mesmo texto, Arnaldo Matos diz que o “objetivo do grupelho provocatório, anti-comunista primária (…), agora mancomunado com a direita neonazi e as novas polícias secretas fascistas, é ilegalizar o partido” e diz que estes querem pôr em causa “que os povos agredidos pelo imperialismo ataquem os imperialistas nos próprios covis em que se acoitam: no interior das suas cidades e capitais, nos boulevards das suas próprias metrópoles”.

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Recorde-se que, em dezembro, Arnaldo Matos escreveu no mesmo site que os atentados de Paris de 13 de novembro foram um “ato legítimo de guerra” e que não foi feito por “islamitas, mas por jihadistas, isto é, combatentes dos povos explorados e oprimidos pelo imperialismo, nomeadamente francês”.

Últimos tempos no MRPP têm sido conturbados

Este é apenas mais um capítulo da recente, mas já longa, fase de conturbação dentro do partido maoista. Os problemas começaram a ser tornados públicos depois das eleições legislativas de 4 de outubro, nas quais o MRPP voltou a não conseguir eleger qualquer deputado, depois de conseguir 1,11% dos votos.

Pouco depois, o Luta Popular publicava um texto assinado por “Espártaco” onde era pedida a demissão de Garcia Pereira por motivos de “incompetência, oportunismo e anticomunismo primário”.

Ainda em outubro, quando o PS já tinha começado as negociações com a CDU e o BE no sentido de viabilizarem um governo à esquerda, Arnaldo Matos comentou a situação de forma pouco simpática: “Política de esquerda esta? Isto não é política de esquerda. Isto é tudo um putedo!”.

No mês seguinte, a 18 de novembro, Garcia Pereira apresentava a sua demissão do partido onde militava desde 1974. “Informo que, embora com uma enorme mágoa, mas também com a firme convicção de que a História não nos deixará de julgar a todos, me vi constrangido, como única alternativa com um mínimo de dignidade, a apresentar, no passado dia 18 de novembro, a minha demissão”, referiu em comunicado.

No sábado, o Expresso dava a notícia de que o próximo congresso do MRPP decorrerá de forma “clandestina”, num local desconhecido ao público e aos media, e que o partido está em blackout.