Nelson Évora não era favorito. O Nelson de Pequim, medalhado com ouro nos Jogos Olímpicos, em 2008, não é mais o mesmo: envelheceu (tem 32 anos), sofreu lesões, algumas bem graves — como a fratura na tíbia da perna direita que o afastou de Londres2012 –, teve recaídas, infeções, podia ter perdido a perna, mas reergueu-se sempre e voltou às olimpíadas e a uma final do triplo salto. Contas feitas, foi sexto classificado. “Sexto? Foi a minha ‘medalha’ desta época. Depois de um ano em que me foi tão difícil conseguir bons saltos, cheguei aqui e arrisquei. Os últimos três ensaios que fiz foram nulos, o último deles foi por muito pouco que foi nulo, e eram saltos melhores que os primeiros.”

Na final a oito (no começo eram doze, tendo Évora sido apurado para a “finalíssima” em quinto lugar, o que lhe permitiu fazer mais três saltos e lutar por medalhas), era o único europeu. Ou seja, o seu melhor salto de hoje, 17.03 metros, se tivesse sido no Europeu de julho, ter-lhe-ia dado o título. Nelson Évora sorri e responde: “Não fui à final do Europeu por um acidente, mas isso não me abalou. O ‘velho’ foi o melhor da Europa nos Jogos Olímpicos. Claro que isso não é suficiente para mim, ambicionava mais, mas esta foi uma boa prova. Não há milagres. Mas tentei o milagre; por Portugal e por tudo o que passei este ano e até aqui.”

Mas chegou mesmo a pensar que chegava às medalhas, apesar de competir contra os americanos Christian Taylor e Will Claye, que fizeram melhoras marcas do que Évora durante a temporada? “Tentei combater o cansaço de dois dias seguidos de provas. Dois dias de muito stress, de emoção. Tentei que o meu corpo reagisse e ele reagiu. Foi muito duro. A final foi muito dura. Mas eu sabia que ia ser. E não me deixei intimidar pelos saltos dos adversários, não me deixei intimidar pela tábua e pelos saltos nulos. É claro que pensei numa medalha, mas o meu melhor ainda está para vir.”

E o melhor será em Tóquio, nos próximos Jogos Olímpicos, Nelson? “Não sei, não sei. Eu tenho 32 anos. E no triplo salto, com 32 anos, temos que pensar ano a ano. O que eu agora preciso é de uma férias, para depois regressar cheio de motivação, sem lesões — estes adversários de hoje não tiveram nem metade das lesões que eu tive. Antes de pensar em Tóquio, tenho que pensar nos Europeus de Londres, para o ano.”

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Os resultados dos portugueses, exceção feita ao bronze de Telma Monteiro, não têm sido felizes no Rio2016. Nelson Évora garante que se não são felizes, não é por falta de empenho, de ambição. O que falta são os apoios e as condições para treinar. Não só no atletismo, mas em todas as modalidades:

“Todos os atletas, os grandes atletas portugueses, pedem melhores condições, mas não se veem resultados. Nós sabemos que o poder é que manda nisto tudo. Nós, atletas, só somos válidos, só olham para nós, enquanto estamos na pista, enquanto entretemos as pessoas. É triste, mas é uma realidade. Nunca me vou conformar com isso. Vou ser sempre uma voz ativa para mudar as coisas. Não sou de dizer o que me convém, só porque é melhor para o meu bolso; direi sempre o que é melhor para o atletismo, pelo qual sou apaixonado desde os sete anos de idade”, atirou Nelson de chofre, no final.

Agora é hora de embarcar de volta a casa e às tão merecidas férias. Ou não. “Foi muito bom para mim voltar a uma final olímpica. Agora, vou desfrutar das provas dos meus companheiros, vou apoiar quem falta competir. Talvez tenhamos alguma surpresa positiva.” Oxalá, Nelson. Oxalá.