O exercício era complexo. Numa entrevista conduzida há 12 anos por Judith Regan — autora de livros, produtora e apresentadora de programas de rádio e televisão –, O. J. Simpson era desafiado a teorizar sobre o homício da ex-mulher e de um amigo. O jogador de futebol fala na terceira pessoa mas, a certo momento, passa o discurso para a primeira pessoa e sugere que teria um cúmplice no crime. A entrevista vai ser emitida a 11 de março.
“Esqueçam tudo o que acreditam saber sobre aquela noite”, diz o ex-desportista, de olhos postos na câmara: “Sou o único que sabe o que se passou”, assegura, de forma enigmática, ao mesmo tempo que garante: “Esta é uma história que o mundo inteiro entendeu mal.”
Essa conversa entre Reagan e Simpson deu origem ao livro “Se tivesse sido eu: confissões de um assassino” e deveria ter sido emitida há mais de dez anos. Mas o coro de críticas públicas ao facto de o ex-desportista ter recebido 3,5 milhões de dólares para aceitar participar no trabalho da polémica autora impediram a sua emissão. Resultado, a entrevista acabou guardada mais uma década. Até agora.
O site de notícias sociais norte-americano TMZ, que falou com fontes diretamente ligadas à entrevista, escreve que O. J. Simpson começa a sua hipotética descrição daquela noite — uma espécie de ‘se fosse eu’ — com um relato na terceira pessoa. Mas, a dado momento, o ponto de vista do narrador muda, e as palavras de Simpson começam a sair na primeira pessoa, como se estivesse a reviver, passo a passo, os acontecimentos daquela noite de 12 de junho de 1994.
Na versão que O. J.Simpson apresenta a Judith Reagan, o assassino não atua sozinho. “Se o fiz, tive a companhia de um cúmplice a noite toda”, diz na entrevista. Leva consigo um cúmplice até à casa da ex-mulher para, nas palavras do próprio, “pregar um susto do caraças” a Nicole Brown.
Ao volante do seu Bronco, com o cúmplice ao lado, o ex-futebolista teria levado uma faca e colocado um chapéu e um par de luvas para não ser identificado e não deixar marcas que encaminhassem as autoridades na sua direção.
Quando chega perto da casa de Nicole, continua o ex-desportista no seu exercício, Simpson teria espreitado pela janela e teria visto que a ex-mulher acendeu algumas velas. Estaria à espera de companhia — um homem. A reconstituição hipotética vai ao pormenor de o ex-desportista imaginar que Ron, empregado do restaurante onde a Nicole tinha jantado nessa noite, trazia na sua mão um par de óculos escuros de que a mãe da ex-mulher se esquecera. Simpson começaria a gritar, enraivecido. Nicole sairia de casa e o ex-desportista perderia os sentidos. Quando voltasse a si, estaria coberto de sangue.
É este o relato que Simpson faz perante a câmara e que dará, 12 anos depois da sua gravação, lugar a uma emissão especial de duas horas da estação televisiva Fox, a 11 de março.
Nicole Brown e o Ron Goldman foram esfaqueados múltiplas vezes até à morte, em junho de 1994. O. J. foi acusado de duplo homicídio e sentou-se no banco dos réus durante nove meses mas acabou por ser considerado inocente no ano seguinte.
Voltaria a ser julgado em 2008, mas dessa vez por protagonizar um assalto à mão armada e por ter sequestrado no ano anterior dois colecionadores de peças de desporto, num casino de Las Vegas. Saiu em liberdade condicional em outubro do ano passado.