Foi no início de março que Donald Trump deu o “primeiro tiro” desta guerra comercial com a China que esta quarta-feira veio negar. Mas as críticas do presidente norte-americano à China são antigas e Trump já tem afirmado que o défice comercial dos Estados Unidos face à China “não é sustentável” e que a política comercial chinesa é injusta.

Argumentando que quer evitar que o país perca dinheiro nas trocas comerciais que efetua com o resto do mundo, Trump decidiu adotar uma política de reciprocidade. “Se eles nos cobram, nós também lhes cobramos o mesmo”, resume. E foi nesse sentido que, no início do mês, anunciou um aumento das taxas alfandegárias sobre o aço e o alumínio.

Trump: Aumento do défice comercial EUA/China é situação insustentável

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A partir daí, foi sempre em crescendo, e hoje já há listas de produtos a taxar, de um lado e de outro. Recorde os principais passos desta guerra comercial que começou no passado mês de março.

1 de março. Donald Trump anuncia um aumento das taxas alfandegárias na importação de aço e de alumínio. As importações de aço passam a pagar mais 25% de imposto, ao passo que as importações de alumínio passam a pagar mais 10%. Num conjunto de tweets, o presidente norte-americano justificava a decisão: os EUA perdem dinheiro no comércio com praticamente todos os países com quem mantêm trocas comerciais, pelo que era necessário corrigir esse défice e implementar taxas recíprocas ao que os outros países cobram. Num dos tweets, Trump foi claro: “As guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”. De imediato, surgiram reações do Canadá, México, China e União Europeia — Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, disse mesmo que uma realiação era “inevitável”. A China prometeu uma “resposta adequada e necessária“.

22 de março. O presidente dos EUA dá um passo em frente no choque contra a China e ordena a implementação de taxas alfandegárias sobre as importações chinesas, que podem ir até 60 milhões de dólares. “Se eles nos cobram, nós também lhes cobramos o mesmo”, argumentou Trump. Ao mesmo tempo, Trump anunciou a suspensão das novas taxas sobre o aço e o alumínio, que tinha implementado no início do mês, aplicadas aos aliados dos EUA, incluindo a União Europeia. Um dia depois, a China ameaçou que poderia responder a este aumento de taxas agravando as tarifas aduaneiras em produtos fundamentais, aplicando taxas que poderiam ir aos 3 mil milhões de dólares.

2 de abril. China responde com o aumento das taxas alfandegárias aplicadas a 120 produtos norte-americanos, incluindo o porco congelado. Em alguns produtos, o aumento chegou a 25%. Em causa estão bens alimentares que, no conjunto, representam cerca de três mil milhões de dólares exportados anualmente pelos EUA para a China. O objetivo deste aumento, explicou o governo chinês, é “salvaguardar os interesses do país e da indústria”. De fora, porém, ficou a soja, um produto muito importante para o comércio entre os dois países, o que pode ser entendido como um sinal de que a China quer evitar uma guerra comercial.

Guerra comercial? De que é que Trump está a falar?

3 de abril. O governo norte-americano publica uma lista com cerca de 1.300 exportações chinesas que podem ser afetadas pelas novas taxas, que poderão ser de 25% para todos os produtos. Em causa estão cerca de 50 mil milhões de dólares em exportações da China para os EUA. A lista inclui a indústria aerospacial e tecnológica chinesa, além de aparelhos médicos e material educativo.

4 de abril. China responde à publicação da lista e anuncia a implementação de uma taxa alfandegária de 25% em cerca de 50 mil milhões de exportações norte-americanas. A lista dos produtos que a China pretende taxar inclui a soja (um dos mais relevantes produtos nas relações comerciais entre os dois países), os aviões, os carros e os produtos químicos.

4 de abril. Trump tenta suavizar a situação e nega uma guerra comercial. “Não estamos numa guerra comercial com a China, essa guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas, ou incompetentes, que representavam os EUA. Agora temos um défice comercial de 500 mil milhões de dólares por ano, com o roubo de propriedade intelectual de mais 300 mil milhões de dólares. Não podemos deixar isto continuar”, escreveu Donald Trump no Twitter.