Quando soube que estava doente, em outubro de 2016, Pedro Rolo Duarte decidiu que estava na altura de escrever as memórias e as histórias de uma carreira de mais de 30 anos que fizeram dele um dos nomes grandes do jornalismo português. Trabalhou nessa autobiografia durante cerca de um ano até que, em novembro de 2017, a doença acabou por ganhar às palavras. Morreu no dia 24 desse mês, ao 53 anos, vítima de “uma palavra” que o deixou, “a um tempo, carimbado, abalado e quase triste”, escreveu. “A palavra: cancro.” Nessa altura, o livro em que tinha trabalhado durante um ano estava em fase de revisão.

Passados seis meses, a sua autobiografia vai finalmente chegar às livrarias, com chancela da editora Manuscrito. Chama-se Não Respire. Tudo começou cedo demais (e quando dei por isso era tarde) e vai estar à venda a partir de 16 de maio. Apesar da decisão de o escrever ter sido motivada pela doença, e de falar do cancro que acabou por vitimar o jornalista português, Não Respire não é um livro pessimista. Nem o pretende ser. Pretende sim, ser uma reflexão sobre a longa e recheada carreira. Não deixa de lado a doença terrível, mas também faz uma celebração da vida e de tudo o que ela tem de bom, explicou o filho, António Rolo Duarte, ao Observador.

“Um dia acordei com uma palavra mais feia na vida, e falei dela com os mais próximos como se fosse apenas uma palavra mais. Rapidamente a ilusão desapareceu — como se, na verdade, alguma vez tivesse existido”, escreveu Pedro Rolo Duarte, numa passagem divulgada pela editora.

“É um livro que foi motivado por este último ano” de vida do pai, “um ano difícil” por causa de “uma doença difícil”, mas que “abarca toda uma vida, uma vida de 50 e tal anos, e uma carreira no jornalismo”. Não é um livro negro ou pesado, mas sim “um livro de memórias e de celebração” de uma vida recheada de coisas boas e de grandes amizades. “Se pudesse resumir o livro numa coisa, num assunto, dizia que é um livro sobre os amigos. As pessoas mais citadas são o Miguel Esteves Cardoso, o João Gobern”, entre outros. “Fala muito sobre os amigos, a sua importância e o que eles trazem para a vida que mais nada traz. É livro muito positivo”, garantiu António Rolo Duarte. “Acho que é uma maravilha!”

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A autobiografia de Pedro Rolo Duarte, editada pela Manuscrito, chega às livrarias a 16 de maio

Não Respire percorre os 53 anos de vida de Pedro Rolo Duarte e os mais de 30 de jornalismo. Cerca de “80% ou 90%” dos textos são originais e foram escritos entre os meses críticos de outubro de 2016 e novembro de 2017, mas há outros que não o são. “Cerca de 10% são textos de que ele gostava particularmente e que quis reeditar ou que tinha escrito e que nunca tinha editado”, esclareceu António Rolo Duarte. Um dos textos que não é novidade é uma entrevista que Rolo Duarte fez a Vergílio Ferreira, que tinha sido seu professor, e que “foi muito marcante” para ele. Esta surge na parte dedicada à infância e juventude, que o filho admite ser a que mais interesse desperto, sobretudo devido à curiosidade que tem sobre o avô, que morreu quando Rolo Duarte tinha 22 anos.

“O pai dele morreu quando ele tinha 22 anos e o meu pai morreu quando eu tinha 22 anos. Tenho naturalmente muito interesse em ler sobre essa altura e também sobre a infância nas aldeias da Serra de Sintra, na Praia Grande.” António Rolo Duarte admite que essas passagens lhe fizeram lembrar As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, que leu quando era pequeno. E fez questão de dizer isso ao pai. “Disse-lhe isso na altura e ele ficou muito contente e orgulhoso. Dizia isso a toda a gente, que eu tinha dito que ele era o novo Mark Twain.”

“Como fiz das palavras profissão, nunca deixei que me escapassem da mão. Brinquei, joguei com elas, até as enganei — mas jamais permiti que se libertassem, como um filho aos 18 anos, ou que me dessem problemas, como um adolescente tonto. Fui-lhes fiel e leal — e exigi-lhes o mesmo. Cumpriram. Até agora.”

No que diz respeito às passagens sobre carreira jornalística, o filho António garantiu que “o livro não é um ajuste de contas”, e que isso é uma das coisas “boas” que tem. “Há muita tendência de nas biografias se falar das pessoas que deixaram os autores ficarem mal. Nos últimos dez anos, ele foi um bocado esquecido por muitas pessoas que tinha ajudado e com quem tinha colaborado. Acho que ele se sentia um bocado esquecido mas este livro não dá a entender isso. Fala das coisas boas e das coisas más como parte natural da vida.” Nesse sentido, António Rolo Duarte garante que Não Respire “não vai deixar ninguém chateado”. O livro só fala “das coisas boas”. E as histórias são tantas e tão boas que António garante que chegamos ao fim das 296 páginas “cansados”. “Cansados e felizes” por percebermos tudo o que Pedro Rolo Duarte “viveu”.

Não Respire. Tudo começou cedo demais (e quando dei por isso era tarde) vai ser lançado a 21 de maio, pelas 18h, na Sala dos Geradores da Central Tejo (antigo Museu da Eletricidade), em Lisboa. A apresentação estará a cargo de Edson Athayde, João Gobern (que escreveu o prefácio), Miguel Esteves Cardoso e Sónia Morais Santos. Os amigos. E é exatamente isso que pretende ser a sessão de 21 de maio — “uma reunião de amigos” e uma celebração da vida de Pedro Rolo Duarte.