A crise levou a que Presidente da Guiné Equatorial desistisse da ideia de entrar no banco Banif. Mas há ainda um desejo que Teodoro Obiang espera “um dia” ver realizado em Portugal: o de investir no Futebol Clube do Porto e ver o nome do seu país nas camisolas dos dragões. Tudo, refere, para promover o país integrante da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a nível internacional.

A revelação foi feita numa entrevista publicada este sábado pela África Monitor. “Quanto ao investimento em Portugal, infelizmente não podemos entrar no Banif e comprar as ações que tínhamos previsto adquirir — sei que o banco agora é do Santander”, começou por referir o Presidente da Guiné Equatorial.

O chefe de Estado acrescentou ainda que os portistas já souberam da ideia, mas ainda nada avançou: “A equipa do Porto também tinha a ideia de que nós pudéssemos financiar a sua marca. Nós estivemos de acordo, mas é um aspeto que esperamos um dia conseguir”. 

Questionado sobre se o objetivo deste investimento passa por promover a Guiné Equatorial, como patrocinador, porque esta equipa é uma das mais ‘mundializadas'”, Teodoro Obiang foi curto e claro nas palavras. “Sim, exato”, confirmou.

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O país “não vai voltar a aplicar a pena de morte”

Teodoro Obiang é o presidente há mais tempo no poder em África. E são várias as associações de direitos humanos que acusam o seu governo, que se mantém há 40 anos, de “mortes ilegais pelas forças de segurança; tortura sistemática de prisioneiros e detidos pelas forças de segurança; impunidade; detenções arbitrárias”. Continuam também em curso processos internacionais que acusam Obiang e o seu filho mais velho de corrupção, incluindo lavagem de dinheiro e o estilo de vida extravagante que Teodorin leva em Paris.

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Mesmo os investimentos do Estado africano têm sido polémicos. Em 2015, uma das escolas que desfilaram no Carnaval brasileiro, a Beija-Flor, aceitou ser patrocinada pela Guiné Equatorial. Muita gente desconfiou deste patrocínio, uma vez que se trata de um território que está sob ditadura e tem como base económica a exploração petrolífera.

Na altura, Farid Abraão, presidente da escola em causa, desvalorizou todas as acusações que estavam a ser feitas. “Pegamos num enredo para falar de um país africano, um país que até então muita gente não conhecia. A nossa questão aqui é o Carnaval. O regime não nos compete. Cuba era odiada pelo mundo democrático e hoje está a ser abraçada”, referiu ao G1.

Mais tarde, em 2018, a polémica voltou a chegar a terras brasileiras quando a Polícia Federal apreendeu 16 milhões de dólares (cerca de 14 milhões de euros) e jóias não declaradas à comitiva da Guiné Equatorial, que viajava para São Paulo. Na altura, fonte diplomática equato-guineense citada pelo Estado de São Paulo explicou que Obiang transportava aquela quantidade de dinheiro para pagar um tratamento médico e custear a hospedagem num hotel de luxo e que os relógios são de “uso pessoal” do vice-presidente, tendo as suas iniciais gravadas. Segundo o jornal brasileiro, Teodorin viaja frequentemente para o Brasil, onde é “conhecido por promover festas extravagantes”.

Ainda durante a entrevista à África Monitor, o chefe de Estado equato-guineense garantiu que o país “não vai voltar a aplicar a pena de morte”, a propósito da exigência da CPLP sobre a abolição da pena capital, desde a adesão do país ao bloco lusófono em 2014.

É uma decisão do Governo. Queremos envolver nessa decisão todos os organismos do Estado. Por isso estamos a estudar uma lei, que está em análise no parlamento, para abolir de vez a pena de morte na Guiné Equatorial. Queremos que todos os partidos cheguem a um entendimento no parlamento e, quando isso acontecer, o Governo vai ratificar imediatamente a pena de morte”, afirmou.

Sobre outro compromisso da Guiné Equatorial aquando da entrada na CPLP — o ensino do português –, o Presidente afirmou que “há professores nas escolas a ensinar o português, há meios de comunicação social (rádios e TVs) que emitem programação em português”.

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Teodoro Obiang falou ainda do seu “amigo José Eduardo dos Santos”, ex-Presidente de Angola, garantindo que quando se deslocar a Luanda, vai solicitar ao seu homólogo angolano para visitar o antecessor de João Lourenço. “Mas felicito a transição que foi feita por dos Santos, que escolheu um colaborador como candidato do seu partido. E ganhou”, comentou, afirmando esperar que o novo Presidente angolano “deve procurar que as suas relações com o seu antecessor sejam fluidas, que sejam boas relações”.

Sobre a sua própria transição — Obiang cumpre atualmente um mandato presidencial de sete anos, após as eleições presidenciais de 2016, e pode recandidatar-se pela última vez -, o chefe do Governo respondeu: “O Presidente Obiang está a atuar através dos órgãos do partido. A sucessão não é determinada pelo Presidente; é o partido que elege o seu candidato. A minha sucessão não depende da minha vontade, mas da vontade do partido”.

Obiang, atualmente com 76 anos, garantiu sentir-se “forte” e adiantou que vai dizer “isso ao partido”. “Mas se não for essa a sua intenção, vamos procurar uma alternativa”, comentou. Quanto à situação económica do país, Obiang garantiu que o país não tem dívida pública e que as empresas com problemas contraíram empréstimos junto da banca e, “quando o Governo não tem dinheiro para fazer antecipações, as empresas ficam com essas obrigações junto da banca”. Contudo, assegurou que isso “é uma responsabilidade dessas empresas, não do Governo”.

A crise económica no país é, no seu entender, decorrente dos créditos feitos pelos bancos a essas empresas, “sem o consentimento do Governo”. O Fundo Monetário Internacional (FMI) “está só a assessorar” a Guiné Equatorial, disse, afirmando esperar que empresas e outros governos “invistam mais” no país, “o que até agora não aconteceu”.