Olhando para o percurso de Vítor Oliveira como jogador, não podemos propriamente descortinar por ali uma veia de nómada: formado no Leixões, onde se estreou como sénior, esteve um ano no Paredes e três no Famalicão onde praticamente não jogou à exceção do último e fez depois duas temporadas no Sp. Espinho, no Sp. Braga e no Portimonense. É certo que falamos de seis clubes em 13 temporadas mas nada a ver com as três décadas e meia que se seguiriam neste ancião do futebol português que recusou sempre sair para uma aventura no estrangeiro mas que despertou o interesse de algumas referências internacionais na imprensa como o The Guardian, que publicou um extenso perfil do técnico em junho de 2017.

A internacionalização de Vítor Oliveira no The Guardian. “O treinador que conseguiu subir de divisão cinco épocas seguidas”

Ainda como jogador, no final da década de 70, Oliveira já tinha experimentado a posição de técnico no Famalicão; mais tarde, a meio dos anos 80 e com apenas 31 de idade, assumiu pela primeira vez uma equipa, por sinal o Portimonense onde arrumou as botas. Estávamos na época de 1985/86. E começava aí uma das carreiras mais impressionantes do futebol nacional, de Norte a Sul, que continua ainda na temporada de 2018/19 a alcançar um sucesso sem precedentes na Segunda Liga.

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Futebol. Vítor Oliveira, um elevador automático de Primeira

Sem perder o fôlego, arrisquemos todos os clubes por onde passou: Portimonense, Maia, P. Ferreira, Gil Vicente, V. Guimarães, Académica, U. Leiria, Sp. Braga, Belenenses, Rio Ave, Moreirense, Leixões, Trofense, Desp. Aves, Arouca, Moreirense, União da Madeira e Desp. Chaves, em 2015/16, antes de voltar a repetir passagens por Portimonense e P. Ferreira. Tudo entre Primeira, Segunda Liga e terceiro escalão nacional (quando esteve no Maia). Mais impressionante ainda, conseguiu nesse trajeto um total de 11 subidas de divisão, a última este sábado após o trunfo do P. Ferreira com o Ac. Viseu.

  • 1991: P. Ferreira
  • 1997: Académica
  • 1998: U. Leiria
  • 1999: Belenenses
  • 2007: Leixões
  • 2013: Arouca
  • 2014: Moreirense
  • 2015: U. Madeira
  • 2016: Desp. Chaves
  • 2017: Portimonense
  • 2019: P. Ferreira

Mais uma vez, Vítor Oliveira conseguiu chegar ao sucesso de forma “limpinha”, não tendo liderado a Segunda Liga desde a primeira jornada porque na terceira ronda sofreu uma surpreendente derrota em casa frente ao Famalicão: à sexta já tinha recuperado a liderança (neste caso isolada) e fez um percurso quase imaculado que lhe valia já nove pontos de avanço em relação ao terceiro classificado no final da primeira volta. E tudo perdendo o principal goleador, Luiz Phellype, a meio da temporada (rumou ao Sporting). Assim, fica apenas um objetivo por atingir nas quatro jornadas que faltam: assegurar também o título de campeão da Segunda Liga, tendo nesta altura mais sete pontos (e mais um jogo) do que o Famalicão.

Vítor Oliveira. “Na estreia, empatámos 6-0 na Luz”

“Passados 29 anos, voltamos a pôr o Paços na Primeira Liga. O Paços é um clube de Primeira Liga, faz falta à Primeira Liga. Foi uma subida que justificámos ao longo de muitas jornadas, de muitos meses, com muita entrega e qualidade. Acabámos por sermos premiados a quatro jornadas do fim, o que é fantástico. Esta gente merece. Estou muito feliz porque passado 29 anos voltei a subir esta equipa. Toda a gente participou nesta conquista, desde os roupeiros ao tratador de relva, toda a gente. O objetivo agora é fazermos tudo para sermos campeões”, comentou no final da partida o técnico.

E o futuro? “A próxima época é uma dúvida para mim, também não sei. Já recebi algumas propostas, mas a todos disse que não falaria antes de a situação do Paços estar resolvida. Gosto de estar onde estou e sempre defendi que treinar na Primeira Liga é melhor do que treinar na Segunda Liga. Depende da perspetiva e das opções, mas nos últimos anos habituei-me a ganhar mais vezes”, admitiu Vítor Oliveira, não abrindo muito o jogo sobre o clube que orientará em 2019/20.