Os olhos estavam todos postos em António Costa. Depois de já todos os partidos terem reagido à sua ameaça de demissão, o primeiro-ministro ia voltar a discursar e esperava-se que falasse da crise política. E fê-lo com dois alvos muito bem definidos,  PSD e  CDS, e uma audiência devidamente identificada, o eleitorado de centro . Num jantar de pré-campanha em Campo Maior, em Portalegre, o secretário-geral do PS aproveitou o palco de Pedro Marques para falar da polémica do momento, mantendo a estratégia de proteger os partidos que compõem a “geringonça”, não lhes tendo reservado uma única palavra.

O país atravessa um momento difícil“, diagnosticou. Depois, identificou a causa: “Na passada quinta-feira, aqueles que foram os campeões da austeridade resolveram aprovar um diploma que põe em causa o compromisso com os portugueses e pôr em causa a reconquistada credibilidade internacional do nosso país”. PSD e CDS já estavam na mira; o Bloco de Esquerda e o PCP, fora do campo de batalha.

De seguida, nova dramatização: “Este é um momento particularmente grave”. Com o terreno preparado começou o ataque: “Começaram por dizer que mentíamos, que não havia custos com a aprovação da proposta, que apenas trazia benefícios para as carreiras dos professores. Mas hoje os portugueses ficaram a saber que quem mentia não éramos nós“. Mais: “Os professores sabem quem lhes falou verdade”. Mesmo sendo contra a medida, que responde às exigências dos sindicatos dos professores, Costa tentou piscar o olho a um eleitorado que sempre foi importante para os socialistas.

Mas o ataque à direita não estava terminado, Costa quis encostar Rui Rio e Assunção Cristas à parede. “Se o PSD e o CDS votaram sem saber no que estavam a votar emendem o erro: votem contra“, sugeriu. “Se entretanto se arrependeram do que votaram, têm um bom remédio: votem contra”, insistiu. “Agora, não queiram enganar os professores nem os portugueses”, disse, tornando a piscar o olho aos professores.

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Sem nunca mencionar diretamente as posições assumidas este domingo pelos dois partidos de direita, Costa comentou os seus efeitos. “Hoje ficou evidente o seu verdadeiro projeto: uma mão cheia de nada para os professores e uma conta calada para os portugueses”, disparou. “Não podemos deixar que destruam aquilo que tão duramente conseguimos construir”, voltou a dramatizar.

Faltava apenas o argumento das contas certas e, quando o discurso ia a meio, lá chegou com nova atenção aos docentes, ao mesmo tempo que reforçava a imagem de governação responsável: “Nós não vendemos ilusões aos professores prometendo-lhes aquilo que sabemos que não podemos cumprir nem hoje nem amanhã. Cada medida que adotámos avaliámo-la previamente com conta, peso e medida“, afirmou.

Apesar de se ter colocado por vezes ao lado dos professores, o primeiro-ministro não deixou de criticar os sindicatos. “Não damos lições aos sindicatos, mas houve uma intransigência sindical nas negociações”. Para quê? Para reforçar a imagem dialogante do Governo mas também para acalmar as exigências das restantes carreiras especiais, que poderiam surgir logo após a eventual aprovação da proposta. “Aquilo que temos de garantir é que aquilo que damos a uns temos de dar a outros . Não há portugueses de primeira nem de segunda”, proclamou António Costa.

No fim, e trazendo o público de volta ao ambiente de pré-campanha, o primeiro-ministro apelou ao voto na lista encabeçada por Pedro Marques. “É por tudo isto que nestas eleições precisamos de reforçar a votação do PS”, gritou. Depois dos auto-elogios da praxe, Costa deixou o palco debaixo de uma grande ovação.