Paulo Rangel voltou a ser eleito vice-presidente do Partido Popular Europeu. O cargo permite-lhe sentar-se à mesma mesa que Angela Merkel e outros líderes europeus nas cimeiras do PPE, mas o eurodeputado queixa-se que o governo aproveita pouco esta posição privilegiada de um português. “Às vezes em Portugal parece que não se dá importância a isso, diria que o governo português não tira proveito disso quando podia tirar“, diz Paulo Rangel em declarações ao Observador. E aponta o dedo a Augusto Santos Silva.

O eurodeputado diz que a REPER (a representação portuguesa junto da UE) tem tido sempre um “tratamento cooperante e aberto” nos dossiês institucionais no Parlamento. Porém, falha a comunicação com o governo, que podia favorecer Portugal enquanto país: “Quanto à questão da coordenação das famílias políticas, eu acho que podia haver muito mais e que, aí, muitas vezes, o governo podia aproveitar, até alguma informação, mas o Ministro dos Negócios Estrangeiros nunca se dignou a saber de nada.” Numa crítica a Augusto Santos Silva, Rangel diz que o ministro lá “saberá o que é interessante para Portugal”, mas espera que “com a presidência portuguesa mude um pouco a sua atitude”.

O português conseguiu 294 votos (foi o nono mais votado em 12 candidatos a 10 lugares). Já se previa que Rangel tivesse uma eleição difícil. O eurodeputado do PSD já tinha sido vice-presidente do anterior mandato, que em vez de durar três anos (como habitual), durou quatro. Antes disso, Mário David tinha ocupado o cargo durante seis anos, o que significa que Portugal tem uma vice-presidência há quase um década, num cargo que deveria ser rotativo. Em junho, Rangel já tinha sido eleito vice-presidente do grupo parlamentar do PPE no Parlamento Europeu. Além de Rangel só mais dois vice-presidentes acumulam os dois cargos (a holandesa Esther de Lange e o romeno Siegfried Muresan).

Diretas no PSD: “A seu tempo vou tomar uma decisão”

Sobre os próximos três anos, Rangel sabe que vai trabalhar com o novo líder do PSD, seja ele Rio, Montenegro ou Pinto Luz. Sobre qual preferia para a estratégia europeia do PSD, o eurodeputado diz que essa é uma pergunta que “não tem qualquer sentido”, uma vez que o “vice-presidente do PPE trabalha com qualquer líder. E, portanto, evidentemente trabalha com o líder que foi eleito legitimamente. E é assim que deve ser”.

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Sobre se apoia Rio — o que corre nos bastidores do PSD é que o fará — Paulo Rangel não abre o jogo após a pergunta que acabara de chegar de forma indireta. “A seu tempo, naturalmente também, na política interna, vou com certeza tomar decisão“. E deixa um aviso à navegação: “Esse tempo ainda sou eu que o decido“.

Rio: “Bom para o PSD e bom para Portugal”

Quanto à pasta que terá na vice-presidência, Rangel diz que será “uma pasta-chave”, a “da política do alargamento”. Isto dará aos portugueses uma “grande capacidade de fazer rede com um conjunto de dirigentes, nomeadamente de governos em vários países da Europa, que podem ter para a posição portuguesa e para a União Europeia relevo”.

Rangel vai participar numa direção liderada por Donald Tusk, que é muito crítico de Viktor Orbán, e que o português define como “o campeão do Rule of Law [Estado de Direito]”. O vice-presidente do PPE destaca que no congresso “não havia ninguém Fidesz”, partido de Orbán, o que significa que a “suspensão está mesmo a ser aplicada, ao contrário do que muitas vezes se diz em Portugal.

O presidente do PSD, Rui Rio, também comentou a reeleição de Paulo Rangel, considerando que é “bom para o PSD, mas também para Portugal.” Ainda antes do final do Congresso, Rio tweetava sobre Rodrigo Gonçalves (“o maior cacique de Lisboa”, que agora apoia Luís Montenegro). E seguiu para Lisboa, depois de liderar uma extensa comitiva do PSD no Congresso do PPE, em Zagreb, como ficou registado numa fotografia partilhada por Paulo Rangel, no  Twitter.