A Huawei processou, em França, uma investigadora, um jornalista de televisão e um perito de telecomunicações por terem dito que a empresa chinesa é controlada pelo governo da China e que faz atos de espionagem, avançou a Bloomberg, de acordo com um relatório publicado pelo La Lettre A. Em resposta ao Observador, a Huawei confirmou o processo reencaminhando para o comunicado oficial e no qual afirma: “A Huawei é uma empresa privada, 100% detida pelos seus funcionários”.

Suspensão do embargo não acaba com “injustiça”, diz Huawei (mais uma vez)

A ação de difamação, que só agora foi revelada, foi interposta em março, antes de os EUA terem colocado a Huawei numa “lista negra” afirmando haver perigo de segurança nacional.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Valérie Niquet, a investigadora processada, confirmou ter feito os comentários durante um programa no canal TF1. A frase em causa terá sido: “Ninguém daria a uma empresa soviética os meios para controlar toda a comunicação no mundo ocidental, e é isso que estamos a fazer com a Huawei”.

Estou surpreendida que a Huawei tenha decidido interpor uma ação contra uma especialista que fala em programas de televisão aberta, na qualidade de especialista sobre a China”, afirma Niquet sobre a ação judicial.

Relativamente ao processo, a empresa chinesa diz que a ação de difamação diz apenas “respeito apenas às declarações de que a Huawei é uma empresa controlada pelo Estado chinês e pelo Partido Comunista Chinês, liderada por um ex-membro da ‘contra-inteligência’ e que usa a sua experiência tecnológica em redes de telecomunicações para cometer atos de espionagem contra o mundo ocidental”.

Além disso, a empresa disse ainda: “As reclamações são dirigidas contra os autores dos comentários transmitidos e não a mídia que os denuncia. A Huawei respeita a independência da mídia e a liberdade de imprensa.

A Huawei não avançou informações sobre se vai ou não avançar com ações semelhantes contra políticos norte-americanos que têm proferido declarações semelhantes.

EUA acusam Huawei de “teatro de transparência” e de fazer promessas em relação ao 5G que não pode cumprir

Em França, à semelhança de Portugal, a Huawei quer ser um dos fornecedores de equipamentos 5G para as operadores, não se sabendo se vai haver algum obstáculo estatal, como acontece nos EUA ou na Austrália.

O caso Huawei e os receios dos EUA

No final de maio, os EUA emitiram um decreto executivo por motivos de segurança nacional que proíve negócios com a Huawei incluíndo-a numa “lista negra” na qual também está a ZTE, outra tecnológica chinesa. Rapidamente, e depois do alvoroço criado pela cessação de parcerias com a maioria das empresas tecnológicas norte-americanas — como a Google, que detém o Android, ou a fabricante de chips Qualcomm —, houve uma suspensão dos efeitos do embargo até agosto e, nesse mês, foi alargado para a semana passada. Agora, a suspensão foi outra vez prolongada por mais 90 dias, continuando a deixar a Huawei num impasse.

Como medida para salvaguardar o seu negócio, a Huawei anunciou no verão o seu próprio sistema operativo, que poderá vir a concorrer com o Android, que é utilizado como base dos smartphones da empresa, uma medida que foi encarada como um dos planos para a empresa mostrar que pode não vir a depender tanto de empresas norte-americanas. Além disso, tem anunciado vários contratos para redes 5G, como na Rússia.

Com a prorrogação da suspensão do embargo, as empresas norte-americanas podem continuar a negociar com a tecnológica chinesa. Contudo, o cenário de incerteza relativamente ao futuro continua no ar. Várias empresas pediram licenças especiais para negociar neste entretanto com a Huawei, mas continuam sem ter resposta dos EUA. Com estas licenças — os pedidos já vão em duzentos — a Huawei poderia voltar, enquanto não há uma decisão definitiva e as prorrogações continuam, a lançar equipamentos com software da Google, por exemplo.

Ainda no início deste mês, durante a Web Summit, o diretor tecnológico da Casa Branca, Michael Kratsios, utilizou o evento para atacar a Huawei e reafirmar a desconfiança do país relativamente à empresa.

“A lei chinesa, que incluiu a Huawei, obriga todas as empresas chinesas, inclusivé a Huawei, a cooperar com seus Serviços de Inteligência e Segurança. Não importa onde a empresa opera”, afirmou Kratsios. No mesmo dia e em resposta, a Huawei reiterou a ideia que tem defendido: “A Huawei é uma empresa 100% privada, exclusivamente detida pelos seus funcionários”. Além disso, disse que a alegações de Kratsios foram “hipócritas e manifestamente falsas”.

*Notícias atualizada às 17h18 com mais declarações do comunicado oficial da Huawei em França enviado em resposta às questões do Observador.