São cada vez mais as iniciativas criadas para oferecer formas alternativas de entretenimento a quem está isolado em casa. Há artistas a darem concertos através das redes sociais, e-books a serem distribuídos gratuitamente online e agora há aulas de latim para quem as queira ter. A iniciativa é do classicista Frederico Lourenço, que criou uma página de Facebook exclusivamente para isso. Chama-se “Latim do zero — Página de Frederico Lourenço para a aprendizagem do Latim” e a primeira lição já está disponível.

“Vou partilhar um segredo convosco. A beleza absoluta existe. É a língua latina”, começa por declarar Frederico Lourenço na primeira lição, esclarecendo que o objetivo da página é “simples: proporcionar, de forma inteiramente informal, o acesso ao latim, partindo do zero”. Para seguir o curso, a única coisa que é necessária é ter à mão a Nova Gramática de Latim, que Lourenço publicou no ano passado pela Quetzal. “Pois vou remeter para ela”, esclareceu o tradutor. “Tirando isso, não precisam de mais nada.”

O método usado no ensino do latim é precisamente o mesmo que foi seguido por Lourenço na sua gramática: “O método que sigo é aquele que, na minha opinião, deu ao mundo os melhores latinistas e helenistas que conhecemos: aqueles cujos nomes lemos nas edições e comentários da Oxford University Press e da Cambridge University Press. É o método por meio do qual grandes classicistas como Martin West, James Diggle, Ted Kenney e Michael Reeve aprenderam grego e latim. Consiste em compartimentar, numa fase inicial, todos os temas gramaticais, apresentando-os por meio de frases. A estas frases, juntar-se-ão depois pequenos textos. A terceira fase consiste na leitura de textos autênticos, escritos da Antiguidade”.

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Frederico Lourenço: “Acho que o grego tornou-se uma espécie de droga para mim”

A Nova Gramática de Latim foi a primeira do género a ser publicada em Portugal desde 1974. Numa entrevista concedida ao Observador por altura da sua publicação, Lourenço explicou que a principal diferença entre a sua gramática e as outras disponíveis em português tem a ver com o “ponto de vista a partir do qual está pensada e no horizonte que pretende transmitir. Não quero dar a conhecer o latim de uma maneira que o torne mofento e desinteressante. O meu livro pretende ser um argumento a favor do interesse intrínseco da língua latina”.

O classicista, que se tem dedicado sobretudo ao estudo e tradução da língua latina (traduziu os dois poemas de Homero e está a trabalhar numa tradução da Bíblia grega), explicou que, apesar disso, tem uma grande paixão pelo latim. “Comecei, de resto, o meu percurso profissional como professor de latim do ensino secundário. Curiosamente, estes últimos anos a traduzir a Bíblia têm trazido o latim de volta ao meu quotidiano, porque acompanho o trabalho de tradução do texto grego com a leitura palavra a palavra da Vulgata, que considero um texto de alta beleza. Aliás, vejo o Antigo Testamento tal como nos surge na Vulgata como um objeto textual mais belo do que a Septuaginta, o Antigo Testamento grego”, disse também ao Observador.