Foi o caso que marcou a semana passada: o ministro das Finanças holandês sugeriu que se fizesse uma investigação a Espanha depois de Madrid ter afirmado que não tinha margem orçamental para responder à crise provocada pelo novo coronavírus sem o apoio financeiro da União Europeia e António Costa saiu em defesa dos países mais afetados pela epidemia. “Esse discurso é repugnante”, começou por dizer o primeiro-ministro português, referindo-se às declarações de Wopke Hoekstra, ditas à porta fechada, numa reunião do Eurogrupo.

Foi o início de uma espécie de incidente diplomático entre os estados-membros da UE que não aceitam compartilhar esforços na emissão de dívida conjunta para ajudar os países mais afetados e os estados-membros da UE que acreditam que, sem esse esforço comum numa altura como esta, o projeto europeu não faz sentido.

Da “mesquinhez” ao “discurso repugnante”: Costa ataca ministro dos Países Baixos

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Esta terça-feira, contudo, o ministro das Finanças holandês deu um passo atrás. Numa entrevista à RTL, citada pela agência de notícias Reuters, Wopke Hoekstra admitiu que a sua declaração pode ter revelado “pouca compaixão” pelos países que estão a ser devastados pela crise sanitária, mostrando compreender que o que ele e o primeiro-ministro Mark Rutte disseram na semana passada possa ter sido “mal recebido”.

Em todo o caso, Hoekstra mantém-se irredutível no que diz respeito à emissão de dívida conjunta, as chamas coronabonds: “Sobre as coronabonds, ou eurobonds, como quiserem chamar, isso não é prudente. É uma solução para um problema que não existe neste momento”, disse na mesma entrevista.

Coisa diferente é usar o Mecanismo Europeu de Estabilidade sem condições durante as negociações sobre a atual crise. Nesse campo, o ministro holandês dá um passo atrás e afirma agora que os Países Baixos estão dispostos a contribuir com “mais do que a parcela que nos diz respeito” para um novo bolo financeiro que se pode traduzir numa espécie de plano Marshall europeu para ajudar os países afetados a suportar esta crise.

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No seio do governo holandês, também as declarações pouco solidárias do primeiro-ministro e do ministro das Finanças revelaram ser pouco unânimes. Segundo o Financial Times, dois líderes da coligação que governa os Países Baixos já se demarcam, com o líder da União Cristã (CU), Gert-Jan Segers, a apelar mesmo a um “Plano Marshall” para o sul da Europa, e Rob Jetten, dos liberais do D66, a exortar o país a mostrar solidariedade com os seus parceiros da União Europeia.