A revista britânica The Spectator vai devolver o dinheiro que recebeu do governo no âmbito do sistema de layoff aplicado na sequência da pandemia. Numa mensagem aos assinantes da revista, o presidente do Conselho de Administração da revista, Andrew Neil, explica que o impacto financeiro do coronavírus “não foi tão mau como o esperado” e que a empresa continua “rentável e em crescimento”.

O grupo que detém a revista receou que a pandemia de Covid-19 e as medidas de confinamento tivessem um impacto nas receitas e que a empresa não aguentasse. Alguns setores sofreram realmente com a crise, escreve Andrew Neil, mas agora as suas receitas vêm sobretudo das assinaturas. “[As assinaturas] estavam a aumentar antes da crise e continuaram a subir fortemente durante este período.”

Andrew Neil diz que nem todas as empresas estarão em condições de fazer o mesmo que a The Spectator, mas afirma que a revista prefere fazer uma aposta no crescimento em vez de depender do dinheiro dos contribuintes. A revista vai retirar todos os trabalhadores de layoff e devolver os fundos recebidos de forma faseada nos próximos dois meses.

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O anúncio chega dias depois de o ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, ter dito que o regime de layoff vai conhecer novas regras a partir de agosto, até ser finalmente extinto no final de outubro.

A decisão da empresa surge também pouco tempo depois do caso de Dominic Cummings, o conselheiro do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que quebrou o confinamento e fez mais de 400 quilómetros, até Durham, com a família. A mulher de Cummings é editora na revista The Spectator.

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A pressão caiu sobre o casal não só por terem quebrado as regras do confinamento que já terão valido multas a outras famílias, mas porque Mary Wakefield escreveu um artigo sobre como ela e o marido tinham enfrentado a Covid-19, com uma descrição pormenorizada da doença, mas deixando uma parte de fora: a viagem para Durham.

As partes omissas da história de Mary Wakefield, publicada na revista que já foi dirigida por Boris Johnson, deram direito a duas queixas no regulador britânico da imprensa, que poderá levar a The Spectator a ter de publicar uma correção, noticia o jornal The Guardian.

A revista é descrita pelo jornal The New York Times como uma espécie de incubadora de dirigentes do Partido Conservador. E o The Guardian acrescenta que as ligações ao governo britânico são enormes. O próprio Dominic Cummings foi editor do site da revista, de onde saiu depois da publicação de um cartoon polémico sobre Maomé, conta o jornal britânico.