Era uma temporada perfeita para o Liverpool. Depois do recorde de pontos na Premier League, depois de perder por pouco a liga inglesa para o Manchester City, depois da importante conquista da Liga dos Campeões, o Liverpool olhou para 2019/2020 com uma época de consagração. A consagração de uma equipa que é genericamente considerada como a melhor do mundo, a consagração de um treinador que é idolatrado na cidade inglesa, e a consagração de um conjunto que se comprometeu a voltar a ser um todo-poderoso europeu.

Em março, quase tudo caiu por terra. A equipa de Jürgen Klopp foi eliminada pelo Atl. Madrid logo nos oitavos de final da Liga dos Campeões, abdicando da renovação do título, e percebeu desde logo que a mais do que provável conquista da Premier League — 30 anos depois da última vez — seria celebrada num estádio vazio, sem adeptos, sem You’ll Never Walk Alone, sem fumos vermelhos e com menos lágrimas e emoção. De repente, quase que existia a pretensão de adiar a tão esperada vitória da liga inglesa para o ano seguinte: um ano em que fosse possível celebrar pelas três décadas de deserto de alegrias.

O jogador que mais preocupações tem com a saúde eliminou o campeão europeu na noite marcada pelo coronavírus em Anfield

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Ainda assim, e apesar de mais de três meses em que a felicidade pela mais do que certa conquista da Premier League acabou por esmorecer, a paragem não poderia ter surgido em melhor fase para o Liverpool. Além da eliminação da Liga dos Campeões, os reds tinham perdido com o Watford e com o Chelsea em dois dos últimos quatro jogos da liga inglesa e pareciam ter perdido o ímpeto vencedor da primeira metade da temporada. E nessa altura, apesar de a margem de manobra ser incomparavelmente maior, o fantasma da vantagem de sete pontos perdida na época anterior para o Manchester City começou a pairar sobre Anfield. No momento em que o futebol parou, os adeptos do Liverpool respiraram de alívio e ansiaram por uma pausa naquele que parecia ser um vórtice negativo nas contas da equipa de Klopp.

Já com a certeza de que não seria campeão este domingo, porque o City ganhou a meio da semana ao Arsenal, o Liverpool regressava à competição logo com um dérbi da cidade, em Goodison Park e perante o Everton. Na antevisão, Klopp já tinha deixado certo que nem Salah nem Robertson iriam ser opções iniciais por não estarem nas melhores condições físicas — o egípcio ainda foi para o banco, o escocês não entrou mesmo na convocatória. O treinador alemão lançou Minamino, reforço de inverno, na frente de ataque, e colocou o polivalente Milner na ala esquerda, enquanto que Keita era titular no meio-campo e Wijnaldum começava no banco. Numa primeira parte praticamente sem oportunidades, e onde a superioridade do Liverpool ficou apenas ligeiramente patente, a pior notícia para os reds foi a lesão de Milner, que acusou os meses de paragem numa das coxas e foi substituído por Joe Gomez.

Ao intervalo, Klopp trocou um mais do que apagado Minamino por Oxlade-Chamberlain e tentou empurrar o Everton, onde André Gomes foi titular, para o próprio meio-campo. O Liverpool procurou construir a partir de trás os lances de transição ofensiva, passando a bola por vários jogadores até chegar sequer perto da grande área de Pickford, mas a única ocasião digna desse nome para a equipa de Klopp foi um remate de Keita (50′). O treinador alemão lançou Wijnaldum e Origi — para além de Lovren, que teve de entrar para o lugar do também lesionado Matip — mas acabou por ser o Everton a ficar mais perto de marcar, por intermédio de Tom Davies, que atirou ao poste (80′).

Três meses depois, o Liverpool voltou a não conseguir voltar às vitórias, permitiu um empate em casa do Everton e garantiu desde já que não será campeão inglês esta segunda-feira, mesmo que o Manchester City perca com o Burnley, e adiou a conquista da Premier League. A questão — e uma das grandes perguntas que Jurgen Klopp poderá ter feito no final da partida — é que é quase impossível perceber se a ausência de rendimento de uma equipa que há alguns meses se mostrava ultra-concretizadora está relacionada com a paragem na competição ou ainda com a má fase pré-pandemia. Isto porque o primeiro problema é expectável e mais natural; mas o segundo é complexo e torna difícil encontrar soluções.